O
rebolado do nosso querido planetinha, dando suas voltas em torno do Sol se faz
sentir mais intensamente nessas latitudes distantes da linha do Equador, nos
escravizando às mudanças sazonais. Gelo-degelo,
luz e obscuridade se alternando a todo ano, esta é a nossa realidade. Estamos
sempre pensando nisso, fazendo nossos projetos em função desse ciclo. Até os
programas de televisão são sazonais aqui, muitos entram em recesso nos cinco
meses mais quentes – OK menos frios – simplesmente porque não terão
audiência.
A maioria das pessoas sai em
busca do Sol, nos horários vagos que têm. A saúde mental daquele que opta por
ficar dentro de casa chega a ser questionada. A jardinagem é a atividade mais
corriqueira. E uma questão de honra é manter os gramados esteticamente
perfeitos. Daí um dos sons estivais mais frequentes ser o dos cortadores de
grama motorizados.
Diga-se de passagem que não estou
reclamando, pois com o clima gélido que faz aqui no Canadá, na maior parte do
ano, ninguém reclama do verão, muito menos eu, com toda a minha tropicalidade
em plena forma.
Agora em junho, estamos no auge
da manifestação da vida. Tudo brota, tudo cresce, até mesmo as pedras! Os agricultores
têm que retirá-las dos campos todos os anos, para não atrapalharem o plantio.
Isso me intriga sempre que os vejo catando pedra e me faz lembrar do mito de
Sísifo – como não há montanhas na nossa região, as rochas não rolam, brotam da
terra. Não explico melhor o fenômeno, porque eu mesma não o compreendi ainda
muito bem. O que me foi dito é que emergem do terreno pelo efeito do gelo
seguido de degelo (para atualização sobre esse assunto, ver link ao final do texto). O fato é que, a cada primavera, lá estão novas pedras, de
várias formas e tamanhos, à cata do Sisyphus
canadensis[1]...
oops, sendo catadas por ele. Há veículos criados para fazer este trabalho, mas
muitos agricultores preferem recolher as pedras manualmente, para evitar danos
maiores aos campos.
O centro de nossas atenções, o
Sol, está se exibindo em nosso céu até por volta das 21 horas, e mesmo depois
que se põe, ainda temos claridade por um longo tempo. Mas tudo que é bom dura
pouco. Exatamente no dia 21 de junho, ele estará na latitude norte máxima a que
pode chegar, no Trópico de Câncer, ao sul da Flórida. É quando
teremos o dia mais longo do ano, o famoso solstício de verão do hemisfério
norte. Não pensem que estou esnobando conhecimentos astronômicos! Todo mundo
sabe isso aqui, tal é o desânimo que dá só de pensar em ver as horas de claridade
começarem a se reduzir, após o solstício.
Mas ainda teremos calor e até
canículas nos meses de julho e agosto. As altas temperaturas duram poucos dias,
mas o suficiente para incomodar bastante, devido à (h)umidade do ar elevada
também. Nessa época do ano, isso aqui parece praia; logo que chegam do trabalho,
as pessoas já vão logo se vestindo, ou melhor, se despindo, para colocar
shorts, sandálias... e tem mulher que circula de biquini mesmo. Não demora
muito tempo e os corpos estão vermelhinhos, mas o pessoal não se importa. Algum
desavisado pensaria que o mar está ali mesmo, virando na próxima esquina. Que
ilusão, a cidade onde moro é bem no interior do país.
Quinze dias de julho são oficialmente
destinados às férias do pessoal da construção civil – todos os trabalhadores de
todos os escalões, direta ou indiretamente implicados na construção ou
renovação de alguma coisa, entram de férias. Acrescida do volume de turistas
que vêm de fora, a quantidade de gente circulando pelas cidades se multiplica
assustadoramente. Tudo fica lotado! Festivais em profusão, shows, espetáculos,
muitas atividades a céu aberto... O verão é uma explosão de festa, uma euforia
generalizada.
Até eu que tenho muito mais horas
de Sol do que o povo daqui, entro no ritmo e vou lá fora com mais frequência.
Por isso mesmo, minha crônica fica mais curta hoje, tenho que ir cuidar das
minhas flores.
Bom verão para quem é do norte! E
para quem é do sul, não fiquem tristes, a Terra já está querendo virar o
rebolado para o lado de vocês.
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Atualização sobre o assunto das pedras:
https://maviemontfils.blogspot.ca/2018/05/ate-as-pedras-brotam.html
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Este texto também foi publicado pela KBR Editora Digital em 20 de junho de 2015:
http://www.kbrdigital.com.br/blog/solsticio/
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Atualização sobre o assunto das pedras:
https://maviemontfils.blogspot.ca/2018/05/ate-as-pedras-brotam.html
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Este texto também foi publicado pela KBR Editora Digital em 20 de junho de 2015:
http://www.kbrdigital.com.br/blog/solsticio/
[1] Sisyphus canadensis é nomenclatura
inventada pela autora da crônica, fazendo alusão a “Sísifo”, personagem da
mitologia grega, condenado a rolar uma grande pedra com suas mãos até o cume de
uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a
pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida, de onde ele
tinha que recomeçar.
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