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Porque hoje é sábado e amanhã é domingo das mães, quero
homenageá-las. Nunca é demais falar sobre a beleza desse fenômeno grandioso que
é ter filhos. Este é um assunto que nunca será lugar comum. Na minha opinião,
uma das datas que realmente faz sentido celebrar é o Dia das Mães.
A mãe natureza aqui onde moro está
em festa, primavera com temperaturas de verão, as cores voltando à paisagem com
a força toda. O domingo vai ser um belo dia para as comemorações.
Fico bem à vontade para fazer esta
homenagem porque não sou mãe... Claro que se chance e oportunidade tivessem
combinado de se apresentarem a mim, não teria recusado. Mas isso não vem ao
caso. O fato é que comemoro a maternidade com apreço e respeito imensos, sou plateia
isenta, sem gerar concorrência. Meus aplausos não me atingem como alvo de modo
algum, eles são inteiramente devotados às mães.
Não existe condição mais
igualitária do que ter mãe. Todo mundo tem... Pelo menos até o atual estágio da
ciência, pois ainda não conseguiram desenvolver um ser humano usando material completamente
desprovido de genitores. Ter pai também é uma cláusula pétrea para a nossa existência, porém, pode acontecer de ser
uma presença não vivenciada, em alguns casos, coisa mais rara quando se trata
da mãe.
O famoso amor maternal parece ser
o sentimento mais forte que existe no universo “detectável” por nós. Pudera!
Esse contato íntimo com a reorganização da matéria para formar um ser é uma
experiência no mínimo intrigante. E sentir essas transformações ocorrendo no
seu âmago é privilégio da mulher. Claro que isso tem que surtir algum efeito no
seu comportamento, impossível sair incólume de uma experiência dessa magnitude.
Por que nos humanos essa ligação
com os filhotes é mais duradoura do que nos outros mamíferos? Deve ser coisa da
evolução das espécies... C’est l’amour ! Ainda
bem que mães desnaturadas são raras.
Frequentemente, mãe também é
sogra e é aí que o êxito não se logra. Há tantos casos e piadas envolvendo conflitos
com as sogras, que é de se acreditar que haja um fundo de verdade. Eu não posso
dar testemunho disso pois a minha morreu antes de me conhecer. Dirão alguns que
sou felizarda. Mas bem que gostaria de tê-la conhecido, tenho a sensação de que
poderia me dar bem com ela. Gosto de desafios.
Além do mais, não podemos nos
esquecer que sogra é mãe do nosso cônjuge. É natural que ela tenha mimos e
cuidados para com ele e que sejam retribuídos. Porque mãe é mãe até quando
estão velhinhos, ela e os filhos.
A sogra que conheci mais de perto
foi a de minhas cunhadas, ou seja, minha mãe. E ela é chamada pelos filhos e
pelas noras de “sogra ao contrário”, pois sempre que havia algum debate, ela se
posicionava do lado delas. Longe de mim, porém, querer tirar o mérito das noras,
que sabiamente não procuravam sarna para coçar.
Minha mãe tinha uma espécie de
código de conduta, uma tradição oral recebida de sua mãe, e que ela repassou a
nós, suas filhas, caso um dia fôssemos sogras. É bom escrever sobre isso, para
ver se a moda pega e tantos conflitos sejam evitados. Entre outras coisas, ela
nos dizia que sogra não deve ser assídua nas casas dos filhos, só mesmo quando
for convidada. Essa é uma das primeiras regras. E se for, nada de ficar se
intrometendo onde não é chamada. E assim, várias outras atitudes consagradas à
arte de bem conviver.
Minha mãezinha vai completar 99
anos no próximo mês de julho. Está tão enfraquecida, dá um aperto no coração
sabê-la assim, principalmente estando tão longe, no outro hemisfério do planeta;
não posso ir visitá-la todos os dias, como gostaria, utopicamente. Sempre foi uma
mulher tão forte e tão alegre, com uma memória invejável, qualidades que vão se
esvanecendo junto com ela. Não costumava deixar uma palavra em destaque numa
conversa sem correspondência com versos que declamava, ou com a letra de alguma
canção, que ia logo cantarolando, no trecho onde a palavra se encaixava. Hoje
em dia, ela ainda cantarola, mas sem palavras, como quando estava preocupada
com alguma coisa.
Quando éramos crianças, era
enérgica conosco, lá isso era. Se brigávamos entre irmãos, ela nos dizia: - Quando um não quer, dois não brigam. E
ninguém ousava querer, bastava essa frase para acalmar os ardores, senão a
briga terminava em palmadas. Naquele tempo era “moda” corrigir as crianças
dessa maneira, e não era só lá no Brasil. Soube que aqui no Canadá a educação
era dada com os mesmos rigores.
Eternamente enamorados, ela e meu
pai, nunca os vimos sequer discordar em opiniões. Certamente devia haver
controvérsias e discussões entre eles, mas não nos era dado o dissabor de
presenciar; fomos agraciados com a harmonia, coisa tão importante para o
desenvolvimento das crianças; podemos dizer que somos de sorte.
Tantas coisas eu trago na minha
bagagem, legado de minha mãe, impossível enumerá-las todas! Só para citar mais
uma: ela nos ensinou a abominar a covardia,
seja qual for a sua forma; seja por medo de ser autêntico e verdadeiro,
seja por se colocar em vantagem diante de uma pessoa em situação desfavorável,
sem condições para se defender. Seu discurso era inflamado, revoltada contra
atos de covardia. E ela não titubeava em
entrar na defesa do fraco. Tive o privilégio de presenciar cenas que marcam o
espírito de qualquer um.
No decorrer da vida, vou
reconhecendo o bem que ela nos fez, mãe brava, sim, amorosa ao seu jeito,
tínhamos a certeza desse porto seguro – nunca pairou nenhuma dúvida.
Conversei com ela pelo telefone, me
emocionei. Velhinha, o vigor não é mais o mesmo, claro, mas faz um bem enorme
saber que está vivo este exemplo de honestidade e autenticidade!
Um bom domingo para todas as
mamães!
Minha mãe, Esther Maria Tamm de Lima Vieira, é minha homenageada para este domingo das mães, 10 de maio de 2015.
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