Esses
últimos Governos do Brasil estão me dando tratos à bola... Estou fazendo uma
certa terapia do meu Eu como brasileira. E agora vou “soltar a franga”. Não me
surpreenderei se encontrar muitos que se sentirão enquadrados no mesmo caso e
que poderão, assim, se liberarem num “insight” em grupo, que poderá, talvez,
ser útil à nação.
Poderão dizer-me que não estou morando no
país, portanto não estaria qualificada para opinar. Não concordo, pelo menos,
não completamente. Realmente, estando fora, só posso ver de longe mesmo a
situação do Brasil. E este fator quer-me parecer de uma certa utilidade. Como
dizem os francófonos, quando querem ter uma visão mais ampla de um estado de
coisas: “prenons du recul”... É o que estou fazendo. Não estou mais tão
envolvida no desenrolar dos acontecimentos, embora ainda – e sempre – com a
carga emocional e cultural de uma brasileira da gema, evidentemente.
Além do recuo em que me encontro – em
distância – coloco-me também em uma viagem no tempo, ao passado – aí que vem o
“pulo do gato”. Pois a nossa história é a “receita do bolo”, onde os
ingredientes se misturaram e resultaram em uma guloseima que pode ser apetitosa
para uns e muitas vezes indigesta para nós mesmos.
Vamos aos fatos, sem mais delongas. Falei
em “soltar a franga”, em liberar... Isso mesmo. Estou cansada de ter sentimento
de culpa. Temos que soltar a verdade toda agora, não podemos esconder mais
nada, não podemos mais nos calar. Comecei meus primeiros estudos na pesada década
de 60, época de mudanças – muita coisa boa aconteceu, mas teve também
muita coisa ruim. Não vou enumerar tudo o
que aconteceu nessa época, no mundo e no Brasil, não é o intuito do meu texto.
Estou aqui fazendo uma análise do meu país, através do meu Eu brasileiro,
repito.
O fato é que foi nessa época que eu,
brasileira típica, ao começar a frequentar outros espaços que não o da casa
paterna, ouvi de professores, até mesmo de
alguns padres e freiras, chamados mais tarde de “engajados” – e eles estavam
por toda parte – que pairava uma culpa sobre todos os cidadãos brasileiros
que não fossem paupérrimos. E esta culpa nos foi martelada
durante todo o percurso estudantil – sempre havia algum "engajado"
para nos relembrar. Nossa família não era rica, não tivemos luxo algum na nossa
infância, meus irmãos e eu. Com muito esforço, trabalho e privações de meus
pais, conseguimos estudar até o nível universitário. Como tivemos condição de
estudar, não fazíamos parte da população que não tinha acesso aos estudos –
isto bastava para sermos enquadrados na turma da “culpa”. Que culpa? A culpa de
haver pobres no país.
Isso até parece coisa do tipo “Pecado
Original” – a gente herda a sentença sem ter cometido o crime. E, como já
estávamos condicionados a aceitar esta condição de pecadores, desde a tenra
infância, através dos ensinamentos catequéticos recebidos em casa e na igreja
católica tradicional e majoritária no Brasil, o peso de sermos culpados de mais
essa – a pobreza no Brasil – entrou sem muita dificuldade nas nossas cabeças já
habituadas a fazerem o “mea culpa” (notem bem que não estou falando nada contra
ensinamentos teológicos, estou só citando uma postura da população brasileira).
Assim, entraram em campo diversos perfis
psicológicos, influenciados por correntes de pensamento vindas de outros
lugares, adaptadas à situação nacional. Entre tantos, alguns encontraram, em um
ideal socialista, um “deus” mais humano, mais “teorizável” em um nível mais
prático; encontraram um jeito de se livrarem da alcunha de
"pecadores", na medida em que fossem contra a situação e contra
aqueles que não estivessem de acordo com eles. Mesmo que continuassem a viver
exatamente da mesma maneira que os “culpados”. Alguns, mais afoitos e aflitos, resolveram
combater o “pecado social dos outros" e se transformaram em guerrilheiros
comunistas ateus, em verdadeiras “cruzadas” mortíferas. Nenhum desses grupos,
no entanto, fazia parte da fatia da população que queriam defender e que nem
mesmo sabia exatamente o que estava acontecendo.
Outros, ainda, aceitaram mais culpa para
carregar na sua cruz, tentando encontrar soluções para os problemas sociais de
maneira mais pacífica, seguindo, temerosos, as leis vigentes; estes
representavam a “fatia” majoritária da população – não gosto de usar a
etiquetagem já tão batida e arcaica, tal como foi definida, “classe social”.
Mesmo porque os “pacíficos” vinham de diversas posições sociais.
Cito também outra parcela da população que
rejeitou o sentimento de culpa completamente, achando que não precisava nem intervir;
tratava-se de um grupo de pessoas que estavam
bem consigo mesmas e pronto. Mas penso que esta parcela da população que
rejeitou a culpa e aquela que chamei de afoita e aflita, não foram
representativas em número.
A maioria da população brasileira foi
esmagada pelo sentimento de culpa, vivendo sob o peso do medo de alguma coisa
mal definida – eu me incluo nesta maioria. E a Ditadura Militar que se
instaurou só veio aumentar esta sensação amedrontadora já impregnada na alma.
Isso é um resumo do que eu vi acontecer durante a minha juventude. Mesmo não
sendo uma conhecedora de estudos sobre “classes sociais”, sou uma cidadã
brasileira que viveu naquela época e tenho direito de dar o meu testemunho,
desejando que ele contribua para um Brasil melhor.
É esta mesma índole para o sentimento de
culpa que perdura ainda hoje, na população que mantém o país vivo, pois as
crianças dos anos 60 é que formaram as famílias que existem hoje, é que foram
os professores dos jovens de hoje – que receberam sua formação dada pelos
brasileiros que vivenciaram os anos 60. É
por essa razão, por causa do sentimento de culpa impregnado, que a população
atual vem aceitando este Governo corrupto que está vilipendiando a nossa nação,
sob a alegação de estar defendendo os pobres.
Enquanto isso, cresce a população criminosa
que circula nas ruas, de uma certa forma, não claramente detectável, protegida
pelas lideranças do governo. Por que aumentou tanto o número de bandidos no Brasil, nestes últimos
anos? Certamente não foi porque a situação dos pobres melhorou. Estes governos
do PT não fizeram nada para tentar reconduzir estas pessoas ao caminho da
civilidade. Em vez disso, desviam dinheiro do país, como nunca antes aconteceu. A que ponto chegamos! Estamos
vivendo uma aberração institucionalizada. Ninguém protege o cidadão honesto,
que trabalha e que faz o país sobreviver. Parece até ser uma atitude proposital
por parte do governo.
Tenho esperança de que a juventude do nosso
país, não contaminada por organizações de poder, aquela juventude que teve
coragem de sair às ruas e se manifestar contra a corrupção e o desgoverno, em
junho de 2013, que ela se livre de toda culpa e se sinta igual a todos – porque
todos estão sofrendo, “no mesmo barco” – que se sinta com o dever de defender
os direitos de todo e qualquer cidadão, sem etiquetar nem quotizar seres
humanos, que são pessoas iguais em direitos e deveres (esse sentimento de culpa
pressupõe um certo sentimento de superioridade – pensemos nisso também).
Esta é a mensagem que quero transmitir,
para livrar-me de sentimentos de culpa que me venham, porventura, assombrar.
Precisamos nos manifestar para reivindicar mudanças, mas temos que fazer isso
dentro da lei, para dar exemplo de civilidade! E não seguir modelos do passado,
já amplamente ultrapassados, nem modelos de brutalidade que vemos no cenário
atual do mundo.
Votar é um dos meios legais de que dispomos
para reivindicar mudanças! Façamos nossa escolha tendo como
princípio, a vontade de ter um país mais digno, sem corrupção, sem esta
criminalidade que está se alastrando cada vez mais, a cada dia. Façamos bom uso do
nosso justo direito de votar!
Maria do Carmos, são muito boas as suas reflexões sobre a política brasileira!
ResponderExcluirLuiz Otávio de Lima Pereira
Obrigada, Luiz.
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