Em meio às minhas angústias e preocupações, sou mestra para pôr
lente de aumento nas circunstâncias angustiantes e preocupantes. Eu
já tinha tendência a me preocupar com tudo quanto há, mas a idade contribuiu para exacerbar
esta minha característica.
Há uma passagem anedótica na minha vida, que ficou famosa em
nosso núcleo familiar, representando bem a minha amplificação da
gravidade das situações, embora um tanto caricaturalmente. É quase
no estilo "morreremos juntos" — este casinho
filhote(*¹), acontecido com minha mãe, vai ficar para uma outra
vez.
A janela do meu quarto, no segundo andar da casa dos meus pais, dava
diretamente para o passeio, onde havia uma frondosa árvore. Não
havia muito espaço entre a copa da árvore e a minha janela. As
folhas, por vezes, queriam entrar, tinha que empurrá-las para fechar
a janela. Eu costumava deixar as cortinas abertas, quando ia dormir,
para desfrutar da claridade das luzes da rua, mas com o vidro
fechado.
Tínhamos uma vizinha que, na calada da noite, punha fogo no seu lixo
exatamente no pé desta árvore. Pois, certa vez, eu acordei de
madrugada, com o barulho do crepitar das labaredas nas folhas da
árvore. O quarto, antes em tom azulado pelas luzes de mercúrio,
estava rubro-laranja, com a dança espetacular do fogo iluminando as paredes,
num show aterrorizante. Levantei assustadíssima e vi o fogo pela
vidraça. A minha impressão foi de que o incêndio se alastraria
rapidamente à nossa casa.
Não titubeei. Telefonei imediatamente para o Corpo de Bombeiros e
disse que havia um incêndio de grandes proporções nas folhagens,
encostando na minha janela. Para minha surpresa, mal eu acabei de
falar, o fogo apagou, as folhas foram queimadas rapidamente pela
labareda que se extinguiu, por falta de combustível. O bombeiro que
me atendeu ao telefone pediu maiores detalhes e, certamente, para o
espanto dele, respondi, entre estupefata e envergonhada: —acabou.
Em seguida, expliquei com mais detalhes, senão ele poderia até
pensar que era um trote.
Até hoje, meus irmãos lembram disso e dão gargalhadas.
Mas o que me fez lembrar desse episódio foi um caso banal que
estava me preocupando exageradamente. Não estou acostumada a morar
de aluguel, fico sempre temerosa de estragar o que não é meu. Nem
pendurei quadros nas paredes, por medo de furar onde não poderia.
Ademais, o apartamento é tão pequeno que qualquer decoração
resultaria em poluição visual. Preferi deixar as paredes "limpas",
acho que dá a impressão de mais espaço.
Bem, vamos ao caso: o ralo da banheira estava entupido; não
completamente, mas a água estava descendo cada vez mais lentamente.
Detesto banheira, só tomo banho de chuveiro, mas o chuveiro fica
sobre a dita cuja. Pensei que pudesse ser meu cabelo, que cai muito.
E era. Mas a minha primeira tentativa de desentupir foi infrutífera.
Telefonei para o "concierge"; é ele que se ocupa de
todo e qualquer problema no prédio. Ele disse que ia comprar um
produto químico próprio para isso. Fiquei preocupadíssima de que o
tal produto provocasse danos na tubulação e que eu tivesse que
pagar pelo estrago. Tratei de tentar desentupir de novo.
De luvas e com a ajuda de uma agulha de crochet, consegui retirar
alguns tufos de cabelo, apesar do obstáculo propiciado pela
"patante"(*²) que tem por cima do ralo, para
fechá-lo quando a pessoa quer tomar banho de imersão, peça esta
que o síndico me advertiu que não podia ser removida. Enfim,
consegui que a água fluísse mais rapidamente, dispensei o
concierge.
Mas não foi o fim do problema. Após alguns meses, a coisa entupiu
de novo com irritante contumácia, apesar de eu ter continuado a
tentar manter o ralo livre de fios de cabelo. Fiquei angustiada. Não
queria o método do síndico, mas não estava vendo outra solução.
Procurei, na Internet, por outras maneiras e, entre as menos
complicadas, estavam duas que eu podia tentar: água quente ou usar o
antigo desentupidor (foto ilustrativa). Fiz as duas.
Não acreditava que fosse dar certo, principalmente, por causa da
"patante". Apesar dela, foi um sucesso! Na primeira
tentativa, a água desceu ruidosamente veloz, desimpedida, embora
somente um discreto tufo de sujeira tenha saído para cima. Que
alívio! Que alegria! Vamos ver se o efeito do que eu fiz vai ser
duradouro. Se houver recidiva e resistência ao desentupidor, minha
próxima tentativa vai ser usar bicarbonato de sódio com vinagre
branco. Dizem que é bastante eficaz.
Até parece que meu blog virou um lugar para dicas caseiras
práticas. Na verdade, contei tudo isso porque aprendi muito,
nesses últimos dias, com angústias desproporcionais. Este caso foi
só um exemplo simples que coexistiu com outras preocupações que
estavam entupindo meu cérebro e com as quais estou aprendendo a
lidar.
Coincidentemente, li um texto de alguma página religiosa, não me
lembro qual, fornecendo, entre outras fórmulas de sabedoria e fé,
uma orientação para controlar preocupações, para quem está
procurando o caminho da santidade. Estou muitíssimo longe da
santidade, mas penso que o fato de procurar esse caminho já conta
alguns pontos positivos. E o tema das preocupações veio a calhar
para mim.
A dica para controlar o exagero nas preocupações é
perguntar-se: isso que está preocupando tem fundamento para salvar a
alma? A resposta nos dá a importância que precisamos dar ao fato,
ou seja, o grau de sofrimento que permitimos a uma preocupação.
Claro, temos que resolver mesmo os problemas de menor importância
com que nos deparamos, mas não devemos nos permitir sofrer por isso.
Bom, eis aí mais uma dica prática e também caseira, por que não;
pois o caminho da santidade começa dentro de nós, de nossa casa,
com o controle daquilo que deixamos ocupar nossos pensamentos.
Às vezes, porém, o motivo do sofrimento é significativo mesmo
e resolvê-lo parece estar acima de nossas forças. Para esses casos,
isso eu sei por experiência própria, a melhor forma de apaziguar a
aflição é pedir a Paz de Cristo, com fé; oferecer o sofrimento a
Nossa Senhora, em nome de Jesus, para o Capital de Graças(*3),
rezar o terço contemplando a vida de Jesus. Uma Alegria interior
serena, apaziguadora, vai nos invadindo, aos poucos, cada vez que
assim buscamos o bálsamo do Divino Espírito Santo.
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(*¹)
Casinho filhote é como minha mãe chamava um assunto apêndice de
outro, introduzido no meio de uma conversação.
(*²)
"Patante":
palavra quebequense genérica, para quando a gente não sabe nomear
alguma coisa.
(*3) Nossa
Senhora
quer presentear-nos graças merecidas por Jesus, por meio de nossa
livre colaboração. O Capital
de Graças
são os méritos, o valor que recebem nossas orações, sacrifícios,
boas obras, sofrimentos, esforço na própria educação, etc., que
unimos ao sacrifício de Cristo, pelas mãos de Nossa Senhora.
É a água que podemos colocar na talha, para que Jesus a transforme
em vinho, pela intercessão de Maria. Jesus transforma nossos méritos
em graças que Maria distribui aos necessitados. Esta
expressão, Capital
de Graças,
surgiu com a devoção a Nossa Senhora de Schoenstatt.
Mas a confirmação deste "mecanismo" pode ser constatada pelas
explicações da própria Virgem Maria, em algumas aparições. Os
fundamentos teológicos para o Capital
de Graças
são encontrados no ensinamento da Igreja, no Catecismo da Igreja
Católica, incluindo a comunhão dos santos, a intercessão e os
méritos.
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Links
relacionados:
Schoenstatt
Movimento
Internacional de Schoenstatt