sábado, setembro 20, 2014

Reencarnação pela tecnologia


Trouville, France - 1998
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          Fico maravilhada, quando vejo como a tecnologia tornou-se tão corriqueira, disponível para todos nos dias de hoje, com tantos “dispositivos móveis” que tornam possível a comunicação quase que instantaneamente, entre lugares tão distantes.
Em 1996 – na minha idade, isso não faz muito tempo – já tinha eu 16 anos de oncologia no meu currículo, imersa no estudo da quimioterapia, em um mundo de moléculas que se desafiam entre a vida e a morte, este ambiente de medos e sonhos, ações e interações, efeitos desejados e outros menos tolerados... Foi nesse rude contexto que uma nova química veio me apanhar, a química do amor.

Eu queria me modernizar, ter as últimas atualizações dos tratamentos oncológicos, antes mesmo que eles fossem anunciados nos próximos congressos de oncologia. Talvez eu nem precisasse mais viajar para participar de conferências, para troca de informações. Eu poderia ter tudo a partir de meu escritório em casa!
Com essa idéia em mente, encomendei meu primeiro computador. No dia previsto, enormes caixas chegaram, cheias de avisos e alertas, eram como repositórios repletos de desafios a enfrentar. Sentia-me como uma criança que abre um presente de Natal. Segui rigorosamente as instruções – até mesmo de como abrir as caixas da maneira correta. O tesouro se revelava em pedaços a decifrar, a montar, a conectar.
Eu me lembro que tinha feito tantas perguntas sobre a “máquina” a um amigo, que ele me dera de presente um livro chamado “Windows passo a passo”. Sim, era um “PC” que eu tinha adquirido, um “personal computer” que me guiou, passo a passo, à felicidade.
A etapa seguinte foi a Internet. O kit necessário para me conectar, instalada ao mundo... Pronto, a coisa funcionava! Eu podia fazer minhas pesquisas de protocolos de tratamento ao redor do planeta!
Além disso, como bônus, eu tinha um programa de bate-papo, o melhor de todos os tempos – estou sendo nostálgica, talvez – e comecei a usá-lo para praticar as línguas estrangeiras que estudava, nas horas vagas. Dizem que nada acontece por acaso. Que coincidência, encontrei um quebequense bilingue. Quando diz-se “bilingue” no Canadá, subentende-se que a pessoa fala inglês e francês – justamente duas das línguas que eu estudava. Nós começamos nossa amizade nos instruindo. Trocamos informações sobre nossos países, endereços na internet e fotos.
Foi fascinante, apesar da baixa velocidade das conexões, em comparação aos dias de hoje. Precisávamos praticar a paciência, e o fizemos com grande prazer e encantamento, diante de tal maravilha do progresso. Acompanhamos a evolução desta tecnologia, ao mesmo tempo que nossa amizade também ia-se reconfigurando. Mas eu não sabia ainda que navegaria tão longe e que meu porto de chegada seria ao norte.
Nós nos apaixonamos um pelo outro e eu acabei me mudando para o Quebec em 1999. Minha vida, meu ambiente mudou completamente. Eu diria que é como se fosse uma reencarnação – não posso mais dizer que não acredito nisso. Tive a chance de viver uma segunda vida. Ciência, tecnologia e amor – uma bela história que perdura... Feliz.

Muitas mudanças ainda estão por vir para o ser humano, certamente. Não presenciarei, mas penso que a tecnologia ainda será capaz, um dia, de nos desmaterializar no lugar onde estamos e nos rematerializar a distância – como no seriado Star Trek – a verdadeira reencarnação pela tecnologia.
Ah! Quem dera poder ir à minha terra amada dessa maneira, ver aquele Belo Horizonte, que a viagem para lá chegar fosse num piscar de olhos... 

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