“Quem
é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
(Marcos 4:35-41)
"35Naquele
dia, ao cair da tarde, ele lhes disse: “Passemos para a outra
margem”. 36Deixando
a multidão, eles levaram Jesus na barca, assim como ele estava. E
havia outras barcas com ele. 37Sobreveio
então uma grande tempestade de vento, que lançava as ondas dentro
da barca, de modo que ela já estava enchendo-se de água. 38Ele,
entretanto, estava na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles o
acordaram e lhe disseram: “Mestre,
não te importa que pereçamos?”
39Acordando,
ele repreendeu o vento e disse ao mar: “Silêncio! Acalma-te!” O
vento cessou e fez-se uma grande calma. 40Depois
ele perguntou-lhes: “Por que estais com tanto medo? Ainda não
tendes fé?” 41Eles
ficaram com muito medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a
quem até o vento e o mar obedecem?"
“Mestre,
não te importa que pereçamos?”
Esta
é a pergunta que toda a humanidade, todos nós, fazemos ou já
fizemos. Por que Deus não interfere nos acontecimentos para que não
soframos, para que não pereçamos? Por que Jesus parece dormir,
enquanto o mal triunfa? O Padre Paulo Ricardo nos dá a resposta de
Ricardo de São Vitor, um grande comentarista medieval da Bíblia, em
sua homilia (ver link ao final). É
para dar a oportunidade do livre arbítrio, ou seja, aos maus, para terem tempo de escolher ou não a conversão e aos justos de manifestarem a sua fé até nos piores momentos.
O
episódio narrado, do poder de Jesus sobre o vento e o mar, é um dos
inúmeros exemplos da manifestação da Divindade de Jesus, em quem
devemos confiar sempre, não importa qual seja a nossa tempestade.
Já
refleti sobre isso há mais tempo (link ao final). Repito aqui alguns
pontos:
Não
sabemos o que é ser bom. Só Deus é (Marcos 10: 18). Não temos
experiência disso. Nossos parâmetros de bondade chegam mesmo a
mudar de uma época para outra. Temos alguns graus de bondade
adquiridos. SER bom é outra coisa, não conhecemos essa completude.
Então, esse julgamento (“Se
Deus existisse, sendo bom, não deixaria a humanidade sofrer.”)
não está ao nosso alcance.
O
que para nós é sofrimento intenso, certamente tem uma avaliação
muito diferente para Deus. Claro que os parâmetros são muito
diferentes, se a gente fala em Deus grande, onipotente, etc. Deus
não tem sentimentalismos. Ele, tampouco os anjos (que
são espíritos), não têm, não dependem de
um sistema nervoso como o nosso, esta nossa matéria que nos
faz ter sofrimentos, alegrias, etc. Duro
compreender isso, não? Mas tem um mas...
Mas
Deus é misericordioso e nos ajuda muitas vezes. O objetivo dessas
ajudas não é o alívio ou o prazer terreno, apesar de estes
poderem acontecer, como efeitos colaterais potencializadores. A
função dessas ajudas misericordiosas é resultar em conversão ao
mistério da fé ou em transformação da inteligência para
caminhar em direção a um relacionamento mais
profundo com Deus, ou seja, para caminhar para a santidade.
Note-se bem que transformação da inteligência aqui não tem nada
a ver com estudo ou conhecimento de teorias, letras, matemáticas,
etc. Entenda-se, também, que santidade não tem viés sentimental;
é estado de fé (que, claro, deve frutificar e resultar
em efeitos comportamentais no ambiente em
que vivemos também).
A
grande intervenção de Deus com relação ao sofrimento humano foi
a encarnação do Verbo Divino e a Ressurreição de Jesus. Isso nos
revela, concretamente, o Amor de Deus por nós. Tendo-se feito
Homem, Ele se humilhou para que pudéssemos ter acesso a Ele através
de nossas capacidades sensoriais e... metabólicas. Ele sofreu como
nós e morreu como nós. Esteve nas nossas medidas, para que O
experimentássemos e, embarcando nEle e com Ele, comendo e bebendo
de seu Corpo e Sangue – alimento de vida eterna – fôssemos por
Ele salvos dessa nossa misteriosa condição mortal tenebrosa, desse
círculo vicioso.
Finalizando,
para nós, que fomos evangelizados, a questão do
livre arbítrio é
crucial.
Somos
chamados a querer crescer na fé. A nossa responsabilidade é muito
maior. Quem não foi catequizado, evangelizado, é claro que não
pode querer o que não conhece, mas é amado por Deus do mesmo jeito
e dele se exigirá menos, obviamente.
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que Cristo parece dormir?
Marcos
4:35-41
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