Dos médicos que imigravam para o Canadá, sabe-se lá por que razão – a minha foi o amor, que me fez deixar para trás uma boa condição financeira – muitos não conseguiam validar o diploma (não sei hoje como está). Acabavam desistindo pois custa muito caro ficar tentando, há gordas taxas a pagar pelo acesso aos exames, documentos infindáveis a traduzir por tradutor juramentado, estágios demorados, etc... E ninguém vive de brisa, ainda por cima tão gelada como a daqui, que exige acessórios também dispendiosos – desde luvas a carros e casa bem equipados.
Eu não passei nos exames e acabei desistindo de novas tentativas. No meu caso, não foi por dificuldades financeiras, foi porque vi que teria que morar longe do meu amor, para fazer estágios demorados, até mesmo para trabalhar, se tivesse conseguido obter a validação do meu diploma. Pelo menos, nessa rodada, consegui uma equivalência de estudos médicos superiores, que serviu para ser reconhecida como uma pessoa educada e instruída, por ser médica, apesar de não me dar o direito de “estar” médica. Mas pude ter bons empregos em outras áreas.
Já há algum tempo que tenho dado graças a Deus por não ter sido “validada” como médica no Canadá. Sim, penso que foi uma graça recebida. Muitas vezes, alguma coisa que consideramos ser ruim para nós, mais tarde, descobrimos que foi a Providência Divina.
Quando escolhi ser oncologista, minha motivação originou-se no fato de ver, na intimidade molecular da vida, onde atuam os quimioterápicos, a possibilidade de fazer sobreviver, curando ou amenizando sofrimentos. Como poderia integrar-me num sistema em que são legalizados o aborto e a ajuda médica para morrer? Com um agravante que, na verdade, está em primeiro lugar: a minha fé e os princípios que prezo. Haveria muitos casos oncológicos – e há – em que os pacientes pediriam esses procedimentos e eu não poderia concordar, nem sequer encaminhar para outro médico que autorizasse. Seria contra meus princípios, contra a minha fé.
Além do mais, a profissão de médico oncologista é muito pesada. Felicito os meus colegas que passaram a vida toda nessa luta. Eu capitulei.
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Notas:
1, Dar sedativos para amenizar o sofrimento não é a mesma coisa que a ajuda médica para morrer. Há uma grande diferença.
2. O médico que já praticou algum desses procedimentos (aborto e ajuda médica para morrer) não precisa defendê-los para o resto da sua vida. O perdão de Deus é para todos que o quiserem. Digo isso, pois parece haver um mecanismo psicológico de defesa em que a pessoa não admite ter errado e defende o erro, para se proteger... de si mesma?
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"Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna."
"Jesus, Maria, José, meu coração vosso é."
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