Minha saudosa irmã |
-
Alô!
– digo eu, ansiosa, em interurbano para o Brasil. Eu que liguei, deveria
esperar a pessoa do outro lado dizer alô primeiro. Mas é que demorou um
pouquinho, fui logo eu mesma dizendo alô. Mais uma fração de segundo e minha
irmã respondeu: - Alô! – Que susto!
Sabia que não era ela, mas a voz era dela. Foi aí que compreendi por que,
tantas vezes, confundiam nossas vozes pelo telefone. Tinha pouco tempo que minha
adorada irmã tinha morrido, foi um choque ouvir sua voz, não sei definir o que
senti.
A ocorrência de eco era
muito comum em ligações daqui para o Brasil, por telefone fixo. Atualmente, não
sei se ainda existe esse problema, há muito não faço ligações internacionais
por telefone fixo.
Lembrei-me desse episódio ao
conversar com uma amiga sobre a semelhança da voz da sua filha com a dela, em
um vídeo que ela publicou em rede social. Ela comentou que não consegue
perceber isso, porque a gente não ouve a voz da gente como realmente é; ela se
surpreende quando grava algum áudio e ouve depois.
Dizem que é porque a gente
ouve a nossa própria voz por dentro, conduzida pelos meandros internos até
chegar no ouvido, e por fora, após ser emitida e conduzida pelo ar exterior.
Quando ouvimos a gravação, o som vem só pelo ar, sem as modulações internas.
Falando em estranhar a
própria voz em gravações ou no telefone, outro estranhamento que é muito
frequente é o que acontece quando vemos nossos rostos nas fotografias. Tanta
gente reclama, não gosta! Dizem os entendidos que a razão disso é bem simples,
se não for algum problema de ordem psicológica com relação à própria imagem.
Mesmo que discreta, todos
temos uma certa assimetria facial, ou seja, uma metade do rosto nunca é
idêntica à outra metade. E nós estamos acostumados a ver nossa imagem sempre no
espelho, onde ela aparece invertida. Ou seja, não nos vemos como os outros nos
veem, que é o que sai numa fotografia, considerando-se que a técnica foi boa; que
não seja um retrato infame de algum documento, claro; essas fotos são quase invariavelmente
horríveis.
Se invertermos a foto em um
editor de imagem (passando o que está à direita para a esquerda e vice-versa),
encontraremos um rosto que estamos acostumados a ver, o do espelho. Mas
não é como os outros nos veem. Já fiz esse teste e funciona mais ainda no meu
caso, pois tenho uma assimetria ocular mais acentuada, a coisa fica evidente.
Certamente, não são só
nossas vozes e nossos rostos que percebemos de modo diferente do que os outros
percebem. Os nossos sentimentos e atitudes nem sempre são vistos pelos outros
da mesma forma que nós. Assim como nós também não percebemos as atitudes e
sentimentos dos outros como eles próprios percebem. Como seremos nós, afinal?
Um combinado do que percebemos e do que os outros percebem de nós?
Nem tanto ao mar nem tanto
à terra, mas poderíamos tentar mudar o tom de voz; mais suave se falamos alto
demais, ou mais alto, se falamos muito baixo e ninguém escuta. Quem sabe até
tentar dar uma melhorada no visual, para ficar mais ecológico, digamos assim, para tornar
o meio ambiente mais agradável para nós e para os outros. Et cetera...
~~~~~~ (desnecessário seria dizer, mas pode haver metáfora neste conteúdo)
~~~~~~ (desnecessário seria dizer, mas pode haver metáfora neste conteúdo)
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