Resgatei este texto do primo
José Eduardo de um fórum que frequentávamos, nos idos de 2004. Ele nos brindou
com esta joia de relato, lançada como simples comentário a esta foto que eu havia
publicado para cutucar a memória dele; foto que descobrira nos preciosos
guardados de minha mãe, que adorava organizar coroações na nossa paróquia – na Igreja de Santa Helena, em Belo Horizonte, que se transformava em um templo festivo
no mês de maio, com anjinhos coroando e louvando Nossa Senhora todos os dias,
com cantos e flores.
Mas vamos ao texto do
José Eduardo...
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"Dois anjinhos no
altar, Zé João e eu, 5 ou 6 anos. Igreja de Santa Helena. Depois de muito
batalhar nas divisões inferiores, na turma dos pirralhos que faziam a maior
bagunça atirando pétalas de flores quando se entoava o coro
"Flores, flores a Maria,
cuja glorificação
nesta noite de alegria
enche o nosso coração"
cuja glorificação
nesta noite de alegria
enche o nosso coração"
nós dois fomos sendo paulatinamente admitidos aos
postos superiores: ramalhetes, palmas e, um dia, COROA! Isso era privilégio da
Leonídia, com aquela voz de prata e postura de cantora lírica seríssima. Mas a
dominação feminina abriu uma generosa concessão para nós, a título de teste.
O grande prêmio eram os
cartuchos de amêndoas confeitadas. Os coroantes tinham direito a um
super-cartucho do tamanho de uma criança média! Aquilo era uma preciosidade que
tínhamos de esconder muito bem escondida, protegida da cobiça dos vizinhos, dos
irmãos e – devo confessar – dos pais.
Criança é um bicho
esquisito: associei os confeitos de amêndoa ao maná que caía dos céus para
alimentar os judeus durante a fuga do Egito. Celebrando a páscoa judaica com
alguns amigos, disse a eles que conhecia o gosto do maná, eles não. Aquela
delicada crosta enrugadinha ia se desmanchando aos poucos na boca, até chegar
ao núcleo, a amêndoa. As que tia Esther encomendava tinham o requinte de serem
desprovidas da pele. Fazê-las hoje, quem há de?
Zé João já era barítono aos
cinco anos! Minha voz era bonita, mas era voz de menina, uma oitava acima da do
primo. Meu irmão Mário, dez anos mais velho que eu, morria de vergonha quando
eu cantava. Claro, ele já era titular do time juvenil do Atlético, não dava
para suportar um caçula com voz de Maria Lúcia Godoy. Lembro-me de Marita,
muito carinhosa, ensinando-me a não me importar com as brincadeiras e a soltar
a voz nos ensaios.
Paixão, não. Mas ó
saudade... Ao ver minha figurinha meiga nessa foto decidi escolher como endereço
hoje um país que espelha minha cara atual: Antigua et Barbuda.
Pascal (José Eduardo
de Lima Pereira)
05/04/2004"
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