Crônica publicada também pela Editora KBR
http://www.kbrdigital.com.br/blog/brasilxcanada/
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Não me esqueço do que me disse
uma prima certa vez, quando retornei ao Brasil, numa tentativa frustrada de
levar meu marido para viver lá: se eu decidisse me mudar definitivamente para
o Canadá, teria que abrir meu coração para acolher a nova terra e seus costumes;
para dar certo teria que me desapegar. Segui seu conselho, e isso apaziguou meu
dilema.
Mas parece que
temos raízes invisíveis que nunca se despregam de nossas origens. Há sempre um
pensamento latente que nos conecta à terra que nos viu nascer, que nos
alimentou. Existe um elo inquebrantável com nossas origens, que nos garante o
sentimento de pertença, que nunca nos deixa órfãos. E isso é reconfortante.
Perdi a conta
das vezes em que me perguntaram aqui no Canadá se eu não me sentia desenraizada
em demasia. Não, eu nunca me senti assim, talvez por ter seguido o conselho de
minha prima, ao mesmo tempo mantendo o elo com minhas origens. Acabei por me
adaptar à minha dupla cidadania, essa quase dupla personalidade.
Vivendo nessa dualidade, parece
inevitável fazer comparações. Quando não partem de meus próprios pensamentos, é
algum canadense que me faz perguntas que geram comparações. Em geral, suas
perguntas envolvem costumes tão corriqueiros nos dois países ou itens que o
Canadá produz e dos quais seus cidadãos se orgulham. E com razão, pois a
performance que o país consegue ter com um clima tão difícil, é mesmo para se
orgulhar.
Devo
confessar, porém, que já fiquei irritada algumas vezes com essas indagações
sobre o Brasil. Mas não sou uma boa conhecedora de dados de produção do Brasil,
infelizmente, desculpem-me. Daí, quando me perguntam “Tem maçã no seu país?” respondo simplesmente: "Sim, tem maçã lá, sim," Esta é uma dos milhares de perguntas que já
tive que responder.
Depois, pesquiso
na internet e descubro que o Brasil está entre os maiores produtores; no caso
da maçã, atualmente é o 11º no mundo. Casos semelhantes, até em que a situação
é ainda melhor, aconteceram inúmeras vezes. Nos primeiros tempos aqui, eu vinha
logo com a informação colhida sobre o Brasil e soltava os dados ao
interlocutor.
Parei de fazer
isso, primeiro porque podem pensar que sou megalomaníaca, não vão sequer se dar
ao trabalho de conferir. Segundo, porque as perguntas não me irritam mais. Se
eu própria não conheço todos os dados sobre o Brasil, eles é que deveriam
saber? Percebi a absurda futilidade da irritação e a completa inutilidade de
responder com precisão. Eles vão continuar enxergando o Brasil como o país do
carnaval, das favelas e, agora, em primeiro plano, o país da corrupção. É essa
a imagem que chega aqui, os documentários e noticiários sobre o Brasil são
todos acerca desses assuntos.
Não, não me
esqueci do futebol! É que no Canadá o interesse pelo “soccer” é praticamente
nulo entre os adultos. Já ouviram falar de Pelé e olhe lá. Só mesmo nas
escolas, as crianças tomam algum gosto quando passam pela temporada do futebol,
durante o curto verão. E depois perdem o interesse. Então, é muito raro
aparecerem notícias sobre esse esporte de poucos gols, muito monótono (sic).
Até há bem pouco tempo atrás, nem a Copa do Mundo da FIFA era transmitida nos
canais gratuitos de televisão, eu tive que fazer assinatura de canais
especializados em esporte para assistir aos jogos. Porque eu ainda tinha aquela
mania de torcer ardentemente pelo Brasil, nas Copas do Mundo. Mas acho que
nunca mais recuperarei esse gosto, depois dos Jogos de 2014. Até no futebol o
Brasil está decadente e nos deixando envergonhados. Por que tudo tem que ser
exagerado? Ou se ganha muito ou se perde muito também. 7 x 1 não é placar de
jogo de futebol! Não sei o que é, mas não é futebol.
Voltando às
questões das comparações e analisando-as por um outro ângulo, são tantos
produtos que o Canadá tem que importar, pela absoluta impossibilidade de
cultivá-los no clima que possui, que é compreensível que os canadenses pensem
que outros países também tenham dificuldades, quando se trata de um produto que
existe aqui... Se existe aqui, não deve existir lá? Talvez por isso se
interroguem sobre coisas que nos parecem tão óbvias no Brasil.
O mais
provável, entretanto, é que não concebam a ideia de que uma nação no estado
miserável de corrupção e desgoverno em que se encontra, possa corresponder a um
país tão produtivo. Não me dizem isso, mas devem pensar.
Diga-se de
passagem, os aviões fazem parte de um capítulo à parte. As rixas e conflitos
entre as duas empresas concorrentes, de um e de outro país, ocuparam espaço na
mídia por um bom tempo, ninguém ficou alheio à situação, não há perguntas. Nem
eu teria respostas sobre a empresa brasileira e me dá até medo de pesquisar
sobre o assunto.
Enfim, de tudo
isso eu tirei uma lição: aprendi mais uma vez que o Brasil tem uma capacidade
impressionante e não sabe aproveitá-la. Só mesmo muita, muita farsa para explicar
por que ainda continuam existindo pobres num país tão rico como o Brasil.
Todos os
governantes que o Brasil já teve se vangloriaram de seus bem-feitos para com os
pobres do país... E, no entanto, continuamos praticamente na estaca zero. Ou
até pior, pois as estatísticas estão dizendo que o número de miseráveis
aumentou. Que decepção! Quisera eu que o meu país também tivesse bom desempenho
nesse quesito, que deveria ser considerado essencial. Se toda a população
vivesse bem, seria melhor para todos. Bem, talvez não para os políticos, pois
não teriam mais esse item para alimentar seus discursos populistas e se
elegerem às custas dos ingênuos... digamos assim.
Xô, farsantes!
Como é difícil
sair desse círculo vicioso que leva os responsáveis pela gestão do país a repetirem
modelos ultrapassados de governabilidade e populismo, como se estivéssemos num
“loop” infinito. E com a incompetência generalizada que tomou conta do poder,
ultimamente, o Brasil entrou numa espiral de decadência que está desiludindo e
preocupando mesmo os mais otimistas.
Se ao menos
aparecesse um líder honesto, competente e corajoso, livre de amarras com
antigos ou atuais governos, com disposição para enfrentar a dura batalha de
endireitar a nação... Triste, porém, é constatar que mesmo se aparecesse um
líder com essas características, a maior parte da população brasileira – pelo
menos a metade dela, como pudemos constatar nas últimas eleições de 2014, que
reelegeram Dilma Rousseff – essa metade, que não é minha cara, não votaria nele,
pois só tem olhos para candidatos populistas. Falta o mínimo discernimento para
escolher o que é realmente bom para o povo e, portanto, para o país. E todos
ficam a mercê dessas escolhas nefastas.
Penso que não
verei minha Pátria amada recobrar os sentidos, se isso acontecer um dia. Ela
foi e está sendo vilipendiada em toda a sua estrutura, um processo de
recuperação será demorado. A cada dia, um novo escândalo vem à tona, mostrando
que todos os setores do país estão corrompidos. A cada dia que passa, mais
decepções para quem ainda tinha alguma esperança.
Estou com
vergonha de ser brasileira e quase sem forças para retomar algum ânimo no que
se refere à confiança nos governos do Brasil. Mas a idéia de um líder
desapegado de discursos desgastados, como disse acima, é atraente e precisamos
tomar providências para isso. Em vez de esperarmos virem as campanhas para as
próximas eleições, poderíamos surpreender esses partidos todos, antecipando-nos
com uma campanha do povo, talvez usando as redes sociais, que têm-se mostrado
tão eficazes. Começaríamos por exigir a participação na escolha de pré-candidatos,
porque depois que eles já são candidatos, ficamos de pés e mãos atados, sem
outras opções. E estabeleceríamos os critérios desejados, entre eles
transparência 100% e alguém que não esteja diretamente envolvido em governos
passados e atuais!
A escolha de
pré-candidatos com participação mais efetiva do povo seria, filosoficamente, um
sistema semelhante às “primárias” dos Estados Unidos.
Que acham de
uma campanha assim, antecipada? “Fica a dica”, a ser estudada...
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