sexta-feira, dezembro 22, 2023

Confissões II

 

Cathédrale 
Saint-Hyacinthe-le-Confesseur

A temporada de confissões antes do Natal, nas igrejas de Saint-Hyacinthe, foi na semana passada. Somente na Catedral havia um dia em que podíamos ter confissão individual. Foi para lá que me dirigi, pois gosto de me confessar individualmente, pelo menos uma vez por ano. É a Cathédrale Saint-Hyacinthe-le-Confesseur. A foto ao final do texto mostra que ela é fiel ao seu nome, há vários belos confessionários ao longo dos corredores laterais.

Fui a pé para unir o útil ao agradável. No caminho, cruzei com uma paroquiana que, de longe me reconheceu e já foi me chamando, apesar de meu quase disfarce em urso, por causa do frio. Depois de rápidas saudações, cada uma seguiu seu caminho. Estou ficando conhecida na minha paróquia, quase como Barrabás... 😄. Aqui, eles usam essa expressão "connu(e) comme Barabbas"... 😂

Gatos pingados na igreja, parece que o pessoal não é muito adepto do tête-à-tête com o padre, não. Fui me sentar lá na frente, à espera do início da celebração, pensando que seria como foi em Acton Vale, episódio para o qual dediquei um texto que ficou até engraçado, eu mesma dou risada, quando me lembro (para ler, acesse aqui: Confissões).

Nada de começar, só via a movimentação de dois jovens paramentados como coroinhas, um ao lado do outro, andando pelos corredores e incensando tudo. O perfume do incenso ativa nossos neurônios, já condicionados a associá-lo ao Sagrado; eu já estava me sentindo nos umbrais do Paraíso. Sério! É bom. Somos seres sensoriais, ora.

Como são muito pontuais aqui, estranhei a celebração já estar com cinco minutos de atraso. Será que me enganei de data? Mais à frente, estava o cantor, organizando papéis - logo o reconheci, é fácil guardar na memória sua figura, um tenor de grande categoria, com cabelos longos, mas repicados o bastante para acompanhar graves e agudos e até, porque não, mudanças de escala. Criei coragem e fui perguntar-lhe sobre as confissões. Ele logo se virou e apontou para trás, lá perto da porta de entrada, onde já estavam recebendo confissões, um padre de cada lado.

Pensando que seria como em Acton Vale, ainda bem que já tinha preparado minha confissão, com antecedência, de forma objetiva e precisa, encaixando os pecados em categorias e agrupando alguns em palavras-chave... hahaha. Apressei-me em direção aos confessionários. No caminho, uma senhora que também estava à espera, abordou-me: - Não vai ter confissão? Sim, respondi, os padres já estão lá atrás. E ela disse que nem sabia que ainda existia confissão individual.

Já havia duas pequenas filas, uma de cada lado. Os confessionários são daqueles antigos, de madeira trabalhada, com janelas e cortinas. O penitente tem acesso, de cada lado, a um genuflexório escondido atrás de uma cortina roxa. Via-se que o local do padre estava com a luz acesa. A fila não demorava a andar, rapidamente, me vi sendo a próxima.

Tomei o cuidado de manter a voz bem baixa, pois achei que, como da outra vez, a fila estava muito perto. Comentei isso com o padre, para justificar o fato de estar quase sussurrando. Ele teve que colar a orelha na treliça de madeira. Apesar da seriedade da situação, sempre acho a cena um tanto cômica. Como recebi absolvição geral e irrestrita, fui perdoada também por achar engraçado, claro. O próprio padre achou graça em alguma coisa, pois, num dado momento, deu uma risada. Não fiz de propósito, gente. En tout cas, melhor rir que chorar... 😊

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2 comentários:

  1. Nunca recebi "absolvição geral e irrestrita", somente limitada e condicional

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    1. Acho que tem padre que não dá para ser confessor. Duvidar do arrependimento e do pedido de perdão? Que horror!

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