Padre Huard Historica Canada: https://youtu.be/VUMu5NqLAkQ |
Na minha
opinião, ao contrário do que alguns pensam, todos os aliados foram importantes
para salvar o mundo dos nazistas. Uns sem os outros não teriam conseguido. Até
o Brasil foi importante, na Campanha da Itália, apesar de não ser mencionado em
praticamente nenhum documentário internacional; provavelmente, porque faziam
parte das tropas americanas, foram "catalogados" como americanos.
O Canadá
também participou ativamente como aliado, fazendo parte das tropas britânicas.
O "Jour J" é lembrado aqui exaustivamente. Ontem, por ocasião das
comemorações, escutei uma entrevista com um ex-combatente canadense (quebequense),
que está hoje com 94 anos. Ele participou da invasão das praias da Normandia.
Um depoimento comovente, embora ele responda às perguntas do entrevistador sem
sentimentalismos, sem vitimização, apesar de ter pesadelos com cenas da guerra
até hoje.
Coisa
horrível, qualquer guerra, não dá para ter espírito de vanglória de jeito
nenhum. Foi num aperto MUNDIAL que os aliados conseguiram vencer. Muito triste,
tudo isso.
Fiz uma
tradução da entrevista. O link para a reportagem e outros seguem abaixo.
“Journal de Montréal (JdeM):
Cinco mil soldados canadenses foram mortos, durante o desembarque na
Normandia... Era um dilúvio de tiros... É mandatório que nos lembremos, hoje,
daqueles que sacrificaram suas vidas e, também, dos que sobreviveram, que estão
entre nós ainda hoje e que podem falar sobre isso. Somos de sorte, esta manhã,
de falar com alguém que participou do Desembarque na Normandia e nós o
contactamos imediatamente, por telefone, o Sr. Pierre Gauthier.
- JdeM : Sr Gauthier, bom dia.
- Sr Gauthier : Bom dia.
- JdeM : Inicialmente, qual lembrança, qual a primeira imagem que lhe
vem à cabeça deste 6 de junho de 1944?
- Sr Gauthier : Eu me lembro de ter tido enjoo causado pelo mar, nos
pequenos barcos que usamos para chegar à praia. Éramos todos jovens soldados,
vomitávamos, etc, e tínhamos medo, obviamente.
- JdeM : Vocês estavam em barcaças e depois foram transferidos a
pequenos barcos, com os quais chegaram às praias. O senhor tinha 19 anos. O
senhor sabia, estava plenamente consciente de que a morte podia estar à sua
espera e de seus companheiros também?
- Sr Gauthier : Claro, tínhamos feito vários exercícios na
Inglaterra, durante nosso treinamento, e sabíamos o que iríamos encarar na
praia.
- JdeM : Diga-me, exatamente na praia... dê-nos uma ideia... vimos
filmes – há muitos filmes que foram feitos sobre isso – vimos imagens que
talvez possam nos ajudar a ter noção do que foi desembarcar nessas praias.
Primeiro, não era o tempo desejado para um desembarque, as condições estavam
muito difíceis. Como isso se passou, quais lembranças o senhor pode partilhar
conosco?
- Sr Gauthier : Quando pusemos os pés na praia, era preciso correr em
direção ao interior da França e tentar evitar os tiros dos alemães, etc. Nossa
tarefa principal era penetrar no interior da França, sair da praia o mais
possível, porque enquanto estávamos na praia, estávamos muito vulneráveis – os alemães estavam
atirando em nós, tivemos que correr o mais rápido possível e tentar encontrar
os lugares onde eles tinham construído locais para atirar em nós.
- JdeM : Li vários
artigos sobre o senhor, entre outras, uma imagem que ficou na sua memória,
justamente dessa praia, foi a do padre encarregado do regimento, que estava na
praia; e há vários de seus colegas, de seus amigos, que sucumbiram aos tiros
dos alemães. Fale-nos desta lembrança que o senhor tem.
- Sr
Gauthier : O padre encarregado do regimento era muito corajoso, ele serviu sob os
tiros, no meio de nós; era um padre católico, que tinha muita consideração para
conosco e nos ajudou muito, nos deu coragem. Ele era um homem muito corajoso.
- JdeM : E, infelizmente,
nesta Praia de Juno, naquele dia, ele teve que ministrar o último sacramento a
vários?
- Sr
Gauthier : Exatamente. Antes do Desembarque, na Inglaterra, ele nos olhou nos olhos
e nos disse que era importante que nós nos confessássemos – nós éramos todos
jovens católicos, era necessário fazer nossa confissão. Ele queria nos dar os
cuidados da religião.
- JdeM : Sr. Gauthier, 75
anos mais tarde, o senhor continua a ter, constantemente, imagens daquele dia,
na sua mente?
- Sr
Gauthier : São coisas das quais a gente não se esquece nunca, ficam gravadas em
nosso cérebro; a gente tem pesadelos, frequentemente, à noite, e pensa nesse
evento e nos outros eventos, vários, na guerra em que combatemos, nosso
regimento.
- JdeM : O senhor
participou desta campanha da Normandia e penso que foi até a Holanda, onde o
senhor foi ferido, não é?
- Sr
Gauthier : Isso, exatamente.
- JdeM:
...
por estilhaços de obus. Mas, diga-me, sei que esta terrível provação por que passou
lhe permitiu, contudo, encontrar o amor, sua esposa. O senhor a conheceu lá, em
combate...
- Sr
Gauthier : Bem, conheci minha mulher na Inglaterra, antes do Desembarque. A gente
se encontrou em uma sala de dança. Nós, soldados canadenses, íamos em salas de
dança, quando tínhamos pausas para repouso, e dançávamos com as moças. Era um
prazer, em cada cidade, em cada vilarejo, na Inglaterra, havia uma sala de
dança; sábado à noite, quando estávamos de folga, íamos às salas de dança e
dançávamos com as moças.
- JdeM : É o lado mais
leve, mais alegre desse combate, que o senhor narrou como provação lá. Diga-me,
para finalizar, é necessário não se esquecer jamais do dia 6 de junho de 1944.
O senhor acha que temos a tendência de falar sobre isso por ocasião do “Dia da
lembrança” (Jour du Souvenir) e de esquecer rapidamente?
- Sr
Gauthier : Não se deveria esquecer jamais, foi um período muito importante para mim
e para os soldados canadenses que participaram. Seria preciso falar com mais
frequência sobre isso; há 75 anos, mas os sacrifícios que os jovens canadenses
fizeram não podem ser esquecidos. É só ir a lugares como Bény-sur-Mer e ver todos os
jovens canadenses que perdemos lá… é muito estressante... e a todos esses cemitérios, e ver centenas e
centenas de canadenses que deram suas vidas. Não se pode esquecer isso jamais.
-
JdeM : Certamente. Sr. Gauthier, somos privilegiados de
poder falar com uma testemunha deste evento histórico, como o senhor. Da parte
de todos que o escutam, obrigado ao senhor e a todos e todas que colocaram em
risco suas vidas, participando desta operação. Somos eternamente gratos por
terem, dessa maneira, mudado a história. Obrigado por nos ter falado, esta
manhã.
-
Sr Gauthier : Merci, bonjour.
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