sexta-feira, junho 07, 2019

O Dia D

Padre Huard
Historica Canada:
https://youtu.be/VUMu5NqLAkQ

Na minha opinião, ao contrário do que alguns pensam, todos os aliados foram importantes para salvar o mundo dos nazistas. Uns sem os outros não teriam conseguido. Até o Brasil foi importante, na Campanha da Itália, apesar de não ser mencionado em praticamente nenhum documentário internacional; provavelmente, porque faziam parte das tropas americanas, foram "catalogados" como americanos.
O Canadá também participou ativamente como aliado, fazendo parte das tropas britânicas. O "Jour J" é lembrado aqui exaustivamente. Ontem, por ocasião das comemorações, escutei uma entrevista com um ex-combatente canadense (quebequense), que está hoje com 94 anos. Ele participou da invasão das praias da Normandia. Um depoimento comovente, embora ele responda às perguntas do entrevistador sem sentimentalismos, sem vitimização, apesar de ter pesadelos com cenas da guerra até hoje.
Coisa horrível, qualquer guerra, não dá para ter espírito de vanglória de jeito nenhum. Foi num aperto MUNDIAL que os aliados conseguiram vencer. Muito triste, tudo isso.
Fiz uma tradução da entrevista. O link para a reportagem e outros seguem abaixo.
“Journal de Montréal (JdeM): Cinco mil soldados canadenses foram mortos, durante o desembarque na Normandia... Era um dilúvio de tiros... É mandatório que nos lembremos, hoje, daqueles que sacrificaram suas vidas e, também, dos que sobreviveram, que estão entre nós ainda hoje e que podem falar sobre isso. Somos de sorte, esta manhã, de falar com alguém que participou do Desembarque na Normandia e nós o contactamos imediatamente, por telefone, o Sr. Pierre Gauthier.
- JdeM : Sr Gauthier, bom dia.
- Sr Gauthier : Bom dia.
- JdeM : Inicialmente, qual lembrança, qual a primeira imagem que lhe vem à cabeça deste 6 de junho de 1944?
- Sr Gauthier : Eu me lembro de ter tido enjoo causado pelo mar, nos pequenos barcos que usamos para chegar à praia. Éramos todos jovens soldados, vomitávamos, etc, e tínhamos medo, obviamente.
- JdeM : Vocês estavam em barcaças e depois foram transferidos a pequenos barcos, com os quais chegaram às praias. O senhor tinha 19 anos. O senhor sabia, estava plenamente consciente de que a morte podia estar à sua espera e de seus companheiros também?
- Sr Gauthier : Claro, tínhamos feito vários exercícios na Inglaterra, durante nosso treinamento, e sabíamos o que iríamos encarar na praia.
- JdeM : Diga-me, exatamente na praia... dê-nos uma ideia... vimos filmes – há muitos filmes que foram feitos sobre isso – vimos imagens que talvez possam nos ajudar a ter noção do que foi desembarcar nessas praias. Primeiro, não era o tempo desejado para um desembarque, as condições estavam muito difíceis. Como isso se passou, quais lembranças o senhor pode partilhar conosco?
- Sr Gauthier : Quando pusemos os pés na praia, era preciso correr em direção ao interior da França e tentar evitar os tiros dos alemães, etc. Nossa tarefa principal era penetrar no interior da França, sair da praia o mais possível, porque enquanto estávamos na praia, estávamos muito vulneráveis – os alemães estavam atirando em nós, tivemos que correr o mais rápido possível e tentar encontrar os lugares onde eles tinham construído locais para atirar em nós.
- JdeM : Li vários artigos sobre o senhor, entre outras, uma imagem que ficou na sua memória, justamente dessa praia, foi a do padre encarregado do regimento, que estava na praia; e há vários de seus colegas, de seus amigos, que sucumbiram aos tiros dos alemães. Fale-nos desta lembrança que o senhor tem.
- Sr Gauthier : O padre encarregado do regimento era muito corajoso, ele serviu sob os tiros, no meio de nós; era um padre católico, que tinha muita consideração para conosco e nos ajudou muito, nos deu coragem. Ele era um homem muito corajoso.
- JdeM : E, infelizmente, nesta Praia de Juno, naquele dia, ele teve que ministrar o último sacramento a vários?
- Sr Gauthier : Exatamente. Antes do Desembarque, na Inglaterra, ele nos olhou nos olhos e nos disse que era importante que nós nos confessássemos – nós éramos todos jovens católicos, era necessário fazer nossa confissão. Ele queria nos dar os cuidados da religião.
- JdeM : Sr. Gauthier, 75 anos mais tarde, o senhor continua a ter, constantemente, imagens daquele dia, na sua mente?
- Sr Gauthier : São coisas das quais a gente não se esquece nunca, ficam gravadas em nosso cérebro; a gente tem pesadelos, frequentemente, à noite, e pensa nesse evento e nos outros eventos, vários, na guerra em que combatemos, nosso regimento.
- JdeM : O senhor participou desta campanha da Normandia e penso que foi até a Holanda, onde o senhor foi ferido, não é?
- Sr Gauthier : Isso, exatamente.
- JdeM: ... por estilhaços de obus. Mas, diga-me, sei que esta terrível provação por que passou lhe permitiu, contudo, encontrar o amor, sua esposa. O senhor a conheceu lá, em combate...
- Sr Gauthier : Bem, conheci minha mulher na Inglaterra, antes do Desembarque. A gente se encontrou em uma sala de dança. Nós, soldados canadenses, íamos em salas de dança, quando tínhamos pausas para repouso, e dançávamos com as moças. Era um prazer, em cada cidade, em cada vilarejo, na Inglaterra, havia uma sala de dança; sábado à noite, quando estávamos de folga, íamos às salas de dança e dançávamos com as moças.
- JdeM : É o lado mais leve, mais alegre desse combate, que o senhor narrou como provação lá. Diga-me, para finalizar, é necessário não se esquecer jamais do dia 6 de junho de 1944. O senhor acha que temos a tendência de falar sobre isso por ocasião do “Dia da lembrança” (Jour du Souvenir) e de esquecer rapidamente?
- Sr Gauthier : Não se deveria esquecer jamais, foi um período muito importante para mim e para os soldados canadenses que participaram. Seria preciso falar com mais frequência sobre isso; há 75 anos, mas os sacrifícios que os jovens canadenses fizeram não podem ser esquecidos. É só ir a lugares como Bény-sur-Mer e ver todos os jovens canadenses que perdemos lá… é muito estressante...  e a todos esses cemitérios, e ver centenas e centenas de canadenses que deram suas vidas. Não se pode esquecer isso jamais.
- JdeM : Certamente. Sr. Gauthier, somos privilegiados de poder falar com uma testemunha deste evento histórico, como o senhor. Da parte de todos que o escutam, obrigado ao senhor e a todos e todas que colocaram em risco suas vidas, participando desta operação. Somos eternamente gratos por terem, dessa maneira, mudado a história. Obrigado por nos ter falado, esta manhã.
- Sr Gauthier : Merci, bonjour.

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