quinta-feira, dezembro 20, 2018

Por um Feliz Natal


Uma pena, parece que muitos católicos – sobretudo a instituição, mas também leigos – transformaram-se em uma espécie de partido ou organização que se considera como detentora de todo o bem. Não são só esses charlatões fazendo manchete nos jornais que cometem absurdos abusos. Nas Igrejas Cristãs também há muitos líderes que deveriam estar na cadeia e não estão. Sábia é a frase atribuída ao Cardeal Richelieu: “Se a Igreja não fosse divina, os papas, os bispos e os padres já teriam acabado com ela”. Incluindo ele próprio. Os leigos também.
Há honrosas exceções, como em tudo, obviamente. O fato é que perdemos aquela humildade e o fervor de outrora, em variados graus de acometimento. Falo na 1ª pessoa do plural, não me excluo desse afastamento da fé; sinceramente, não sei em que gradação – ou degradação – me enquadraria.
Os primeiros cristãos, com os ensinamentos e revelações de Jesus Cristo ainda recentes, imbuídos da fé e da incumbência que receberam de propagá-la, sobreviveram à discriminação e às perseguições que sofreram. Nos primeiros séculos d.C., conseguiram difundir suas crenças a ponto de influenciar mudanças no modo de vida de grande parte da humanidade; mesmo os que não adotaram a nova religião ouviram falar de seus seguidores, que se dispersaram pelo mundo inteiro.
Tal foi a repercussão do processo, que até a contagem do tempo foi instituída a partir do nascimento de Jesus Cristo – o que não é pouca coisa, parece banal pois já estamos acostumados. Embora o cálculo não tenha sido preciso, pois há indícios de que Ele tenha nascido alguns anos antes da data considerada como ano um, a contagem foi aceita mundialmente.
 De lá para cá, muita coisa mudou. As comunidades cristãs não são mais as mesmas. Dividiram-se em vários segmentos, ficaram ricas, riquíssimas, estabeleceram verdadeiros impérios. A “Palavra” se manteve na Bíblia, mas há controvérsias na interpretação por cada subdivisão e, mesmo dentro de um só segmento, têm sido tolerados desvios doutrinários, não consuetudinários, que seriam inadmissíveis nos primeiros tempos e que enfraquecem a coesão dos seguidores.
Com o passar do tempo, o excessivo poder que essas comunidades alcançaram levou também a abusos. Como bem disse São Francisco de Sales, « Là où il y a de l’homme, il y a de l’hommerie ». Traduzindo, onde há o ser humano, há baixezas de toda espécie – falta de dignidade, mesquinhez, torpeza, vileza, corrupção, abusos para com outros seres. E tudo isso feito com as costas largas da reputação de uma comunidade que outrora construíra confiabilidade e respeito, por ser idônea, por cultivar o amor ao próximo, tendo-se tornado insuspeitável e digna de admiração.
Em muitos casos, mesmo não cometendo crimes passíveis de punição pela lei, representantes e seguidores do Cristianismo passaram a agir como no “farisaísmo” tão criticado por Jesus, seguindo a religião de modo formalista, pregando o que não praticam e julgando outros sem enxergar seus próprios erros.
Precisamos sempre rever nossas atitudes, nossos pensamentos, mesmo que não tenhamos crenças religiosas. Será que estamos sendo hipócritas? Será que estamos apoiando instituições, partidos ou organizações que não estão agindo de acordo com nossos princípios? “Cuiusvis hominis est errare, nullius nisi insipientis in errore perseverare”, isto é, qualquer um pode errar, mas apenas o tolo persiste em sua falta (Cícero). Será que é preciso fazer alguma coisa para mudar, para tomar iniciativas a fim de renovar essas “instituições” ou nós mesmos?
O Natal é uma boa época para fazer uma revisão de nossa conduta e construir alguma coisa que ilumine nossas vidas. As reuniões para as festas de fim de ano poderiam ser melhor aproveitadas. Em vez de trocar presentes e votos repetidos mecanicamente, todos poderiam ser convocados a trocar ideias mais consistentes de mudança, serenamente, sem partidarismos, brigas e ofensas, vislumbrando a felicidade de suas comunidades. Fazer as pazes, entre outras coisas. Que tal? Esta é a minha ideia.
A comemoração do nascimento do Menino Jesus nesta época do ano foi muito bem escolhida, a analogia é muito boa. A luz do sol distante, que deixa parte da Terra na escuridão e no frio, volta a se tornar mais presente, após o solstício de inverno, trazendo a esperança. Jesus disse: “Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12). Nós, cristãos, queremos seguir esta Luz e queremos partilhá-la com todos. Para isso, precisamos dar bom exemplo, a fim de atrair os outros.
Feliz Natal, na Paz do Senhor!

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