Uma pena, parece que muitos
católicos – sobretudo a instituição, mas também leigos – transformaram-se em
uma espécie de partido ou organização que se considera como detentora de todo o
bem. Não são só esses charlatões fazendo manchete nos jornais que cometem
absurdos abusos. Nas Igrejas Cristãs também há muitos líderes que deveriam
estar na cadeia e não estão. Sábia é a frase atribuída ao Cardeal Richelieu: “Se a Igreja não fosse divina, os papas, os
bispos e os padres já teriam acabado com ela”. Incluindo ele próprio. Os
leigos também.
Há honrosas exceções, como
em tudo, obviamente. O fato é que perdemos aquela humildade e o fervor de
outrora, em variados graus de acometimento. Falo na 1ª pessoa do plural, não me
excluo desse afastamento da fé; sinceramente, não sei em que gradação – ou
degradação – me enquadraria.
Os primeiros cristãos, com
os ensinamentos e revelações de Jesus Cristo ainda recentes, imbuídos da fé e
da incumbência que receberam de propagá-la, sobreviveram à discriminação e às
perseguições que sofreram. Nos primeiros séculos d.C., conseguiram difundir
suas crenças a ponto de influenciar mudanças no modo de vida de grande parte da
humanidade; mesmo os que não adotaram a nova religião ouviram falar de seus
seguidores, que se dispersaram pelo mundo inteiro.
Tal foi a repercussão do
processo, que até a contagem do tempo foi instituída a partir do nascimento de
Jesus Cristo – o que não é pouca coisa, parece banal pois já estamos
acostumados. Embora o cálculo não tenha sido preciso, pois há indícios de que Ele
tenha nascido alguns anos antes da data considerada como ano um, a contagem foi
aceita mundialmente.
De lá para cá, muita coisa mudou. As
comunidades cristãs não são mais as mesmas. Dividiram-se em vários segmentos,
ficaram ricas, riquíssimas, estabeleceram verdadeiros impérios. A “Palavra” se
manteve na Bíblia, mas há controvérsias na interpretação por cada subdivisão e,
mesmo dentro de um só segmento, têm sido tolerados desvios doutrinários, não
consuetudinários, que seriam inadmissíveis nos primeiros tempos e que
enfraquecem a coesão dos seguidores.
Com o passar do tempo, o
excessivo poder que essas comunidades alcançaram levou também a abusos. Como
bem disse São Francisco de Sales, « Là
où il y a de l’homme, il y a de l’hommerie ». Traduzindo, onde há o ser humano, há baixezas de toda
espécie – falta de dignidade, mesquinhez, torpeza, vileza, corrupção, abusos
para com outros seres. E tudo isso feito com as costas largas da reputação de
uma comunidade que outrora construíra confiabilidade e respeito, por ser
idônea, por cultivar o amor ao próximo, tendo-se tornado insuspeitável e digna
de admiração.
Em muitos casos, mesmo não
cometendo crimes passíveis de punição pela lei, representantes e seguidores do
Cristianismo passaram a agir como no “farisaísmo” tão criticado por Jesus,
seguindo a religião de modo formalista, pregando o que não praticam e julgando
outros sem enxergar seus próprios erros.
Precisamos sempre rever nossas
atitudes, nossos pensamentos, mesmo que não tenhamos crenças religiosas. Será
que estamos sendo hipócritas? Será que estamos apoiando instituições, partidos
ou organizações que não estão agindo de acordo com nossos princípios? “Cuiusvis hominis est errare, nullius nisi
insipientis in errore perseverare”, isto é, qualquer um pode errar, mas
apenas o tolo persiste em sua falta (Cícero). Será que é preciso fazer alguma
coisa para mudar, para tomar iniciativas a fim de renovar essas “instituições”
ou nós mesmos?
O Natal é uma boa época para
fazer uma revisão de nossa conduta e construir alguma coisa que ilumine nossas
vidas. As reuniões para as festas de fim de ano poderiam ser melhor aproveitadas.
Em vez de trocar presentes e votos repetidos mecanicamente, todos poderiam ser
convocados a trocar ideias mais consistentes de mudança, serenamente, sem partidarismos,
brigas e ofensas, vislumbrando a felicidade de suas comunidades. Fazer as pazes,
entre outras coisas. Que tal? Esta é a minha ideia.
A comemoração do nascimento
do Menino Jesus nesta época do ano foi muito bem escolhida, a analogia é muito boa.
A luz do sol distante, que deixa parte da Terra na escuridão e no frio, volta a
se tornar mais presente, após o solstício de inverno, trazendo a
esperança. Jesus disse: “Eu sou a Luz do
mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João
8:12). Nós, cristãos, queremos seguir esta Luz e queremos partilhá-la com todos.
Para isso, precisamos dar bom exemplo, a fim de atrair os outros.
Feliz Natal, na Paz do
Senhor!
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