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Este texto é para os que gostam de conjecturas
linguísticas e também para quem gosta de divertidas extrapolações antropológicas e
paleontológicas, daquelas regadas a café com leite pelando, acompanhado de pão
com manteiga, lá pelas tantas, como costumávamos fazer na casa de meus pais,
quando éramos jovens: irmãos, primos, amigos... Saudades.
Motivada pela leitura de comentários em um fórum
linguístico que acompanho no Facebook, em que se discutia sobre os verbos ser e
estar, fiz umas pesquisas na internet e penso que descobri um jeito de explicar
melhor como usar os verbos 'estar' e 'ser' em português a pessoas que falam
línguas que, aparentemente, não possuem o correspondente ao verbo estar, como o
francês e o inglês, e que usam o 'être' e o 'to be' em situações em que usamos
o 'estar'. Meu marido é bilíngue francês/inglês e se vira razoavelmente bem em
outras línguas; ele compreendeu perfeitamente a conotação de transitoriedade do
‘estar’ e de essência do ‘ser’, mas na hora de
empregar os verbos, ele às vezes troca um pelo outro. E não é só ele que faz
essa confusão. Não tendo um verbo que condense o 'pensamento' correspondente na
própria língua, fica difícil. Dá para compreender por que os anglófonos e os
francófonos confundem:
Ela é
triste: She is sad... Elle est triste.
Ela está
triste: She is sad... Elle est triste.
Achei uma explicação bem boa sobre a
"história" desses verbos num site web português e, considerando que a
evolução do pensamento humano é semelhante nas diversas “culturas”, deduzi que
o correspondente de 'estar' em inglês poderia ser 'stand' (não ‘stay’, como
pensam alguns). No alemão 'stehen'. Vejam a explicação em link (1), que interessante! O
verbo 'estar' vem de 'estar de pé' e isso tem a ver com transitoriedade.
Tentando
dar razão à minha dedução, pesquisei sobre o verbo ‘stand’ e, realmente, ele
tem um uso semelhante ao de ‘estar’. Só que o uso mais comum é com o verbo 'to
be'.
No dicionário Collins, está bem claro (2):
No dicionário Collins, está bem claro (2):
“… link verb
You can use stand instead of 'be' when you are
describing the present state or condition of something or someone.
Examples:
The alliance stands ready to do what is necessary.
The alliance stands ready to do what is necessary.
The peace plan as it
stands violates basic human rights.”
Para o francês, infelizmente, ainda
não encontrei correspondente (o que mais se encaixa é 'rester', que fica
um pouco estranho, mas não fica de todo desconexo).
Um primo, daqueles chegados a tomar
um café com leite fumegante – com nata! – e grande conhecedor de Latim, entre
outras tantas línguas, o querido José Eduardo, enviou-me, além de várias
referências confirmando a origem etimológica do verbo ‘estar’, uma página ótima
para os francófonos se desemaranharem das tramas do português. Vejam só este
link (3) de real utilidade (descontados os erros de francês).
Aconselho
também o verbo STAND do inglês, para ajudar os
anglófonos a memorizar, pois parece visualmente com ESTAR e, se a pessoa tentar
substituir por ele, numa frase correspondente em inglês e não encaixar de jeito
nenhum, é porque o certo é dizer SER. O 'stand' às vezes fica meio forçado no
lugar do ESTAR, mas não fica estapafúrdio, sem nexo.
Agora, vamos às extrapolações...
A origem de 'estar', então, remonta
mesmo à expressão 'estar de pé', e isso explica o caráter de transitoriedade do
verbo, em contraposição ao verbo 'ser'. Todas as posições são transitórias, mas
o fato de a posição de pé ter evoluído para simbolizar a conotação de
transitoriedade me intrigou.
Ninguém sabe ao certo, até hoje, o
que surgiu primeiro: o bipedismo ou a inteligência superior, em relação aos
outros animais, com o desenvolvimento da linguagem mais sofisticada, com
capacidade de veicular símbolos, ideias e noções abstratas. Prevalece a ideia de
que o bipedismo surgiu primeiro e permitiu o desenvolvimento da inteligência
(uso das mãos, etc...).
De qualquer forma, quando a
linguagem começou a se desenvolver, o bipedismo devia estar ainda em transição.
Não devia ser fácil ficar muito tempo de pé. Só transitoriamente mesmo. Até
hoje não somos completamente adaptados ao bipedismo, estar de pé não é nossa
posição preferencial. Quem fica de pé por longos períodos de tempo, pode
apresentar problemas e, se adicionadas condições climáticas menos favoráveis, a
posição bípede prolongada pode se tornar mais incômoda e até mesmo prejudicial.
Então, no verbo ‘estar’ ficou embutida
essa ideia de transitoriedade, relacionada à posição de pé. Olha a importância disso! Parece que a nossa linguagem está
contando a nossa própria história de evolução! Isso é fascinante!
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