No país onde vivo hoje, o
Canadá, as pessoas consideram como curso normal da vida ir morar em casas para
idosos, a partir do momento em que não se sentem mais em perfeitas condições
para ir à mercearia fazer suas próprias compras, fazer sua própria comida ou cuidar da casa sozinhas. Seja
homem ou mulher, enquanto estiver conseguindo fazer isso, costumam permanecer
independentes.
O limite para que deixem de
se considerar autônomos é cada vez mais postergado. É muito comum idosos se
virarem sozinhos. Não é raro vermos um desses sair do supermercado, por
exemplo, caminhando com o auxílio de um andador, com sua sacolinha de compras
dependurada no aparelho, se dirigir ao seu carro no estacionamento, guardar o andador
na parte de trás do veículo, sentar-se na cadeira de motorista e... “Enwèye !”As primeiras vezes que vi tal peripécia, confesso que fiquei estupefata.
Há, também, serviços locais
de transporte para pessoas com deficiências. De um jeito ou de outro, vão se
arranjando. É impressionante a vitalidade de muitos desses longevos; mesmo já não podendo gerir todas as suas atividades, muitos ainda
encontram energia até para “paquerar”... e com reciprocidade por vezes tão
efetiva que decidem “juntar os trapos”, como se diz.
Não existe o costume, como
no Brasil, de ter empregados domésticos, aqui ficaria muito caro, seria um luxo. Pagar um salário mais alto ainda para um cuidador,
além da despesa da casa, seria impraticável. Nem se pensa nisso. Ir viver nessas
casas de idosos é coisa corriqueira. Mesmo ainda com uma certa autonomia,
muitos preferem se mudar. Tenho visto todos os tios e tias de meu marido passarem
por esta etapa. Os filhos vão visitá-los, combinam saídas para compras ou para
atividades sociais, mas não existe o compromisso de levá-los para morarem em
suas casas, e os idosos são os primeiros a não admitirem esta hipótese.
Nos últimos anos, o Canadá
tem recebido muitos imigrantes, pode ser que comportamentos diferentes de outros
povos influenciem mudanças nos costumes do país, não sei. O que vejo acontecer
nas famílias canadenses da gema é o que narrei acima. Confesso que eu ainda não assimilei esse hábito, não gostaria de deixar meus pais em um asilo para idosos, caso ainda estivessem vivos.
Mas tenho a impressão de que
esta é uma tendência mundial, à medida que a longevidade da espécie humana
aumenta. No Brasil, tivemos notícia, esta semana, da nossa eterna Miss Brasil,
Martha Rocha, anunciando sua mudança para uma pousada de idosos. Bravo,
Madame ! Vous êtes à la mode, en mode premier monde !
P.S. :
Por falar em pousadas para
idosos, em 2016, quando houve uma onda de levantes antirracistas no Brasil,
escrevi um texto dando sugestões de mudança na estrutura da sociedade, com a criação de numerosos asilos e creches,
para onde sugeri a realocação de empregadas domésticas, transformadas em
cuidadoras, como forma de acabar com as reminiscências da escravidão, , sem que haja desemprego em massa no país
(clique aqui para ler o texto – Alvíssaras).
Nenhum comentário:
Postar um comentário