Conheço muitos casos, no Brasil, de
pais católicos da minha geração que não contaram e não gostavam que contassem a
seus filhos, ainda pequenos, a história do Cristianismo, quem foi Jesus Cristo, o que pregou, o
que fez e o que aconteceu a Ele, como viveram os primeiros cristãos, etc, para
poupá-los do que poderia lhes causar emocionalmente o fato de saber do flagelo
pelo qual passaram, naqueles primeiros tempos da Cristandade – esse era um dos
motivos alegados pelos que se diziam católicos, ouvi essas alegações muitas
vezes.
Havia também os ateus e o motivo
para estes, claro, é porque não acreditam na doutrina. No final das contas, são
mais honestos consigo mesmos, pois para eles não há que se preocupar com a
salvação da alma de seus filhos, isso não existe. Com os demais cristãos, não
católicos, não sei como isso se passou, mas tenho a impressão de que foram mais
conscienciosos do que muitos católicos.
O resultado é que essas crianças,
hoje com idade em torno de 30 anos, vieram a ter alguma notícia da religião
católica nas escolas, quando lhes foi ensinada a parte humanamente deturpada
pela hierarquia da Igreja, séculos após Cristo – não preciso entrar em
detalhes, isso todos conhecem de sobra, desde a Inquisição, passando pelos
escândalos financeiros, até os inomináveis casos de pedofilia que abundam no
clero.
Compreensível que essas crianças sejam
hoje adultos revoltados contra a religião, devotando sua índole de acreditar em
alguma coisa a outros ideais, nem sempre chegados aos impulsos do espírito. Mas
o que me espanta é a falta de conhecimento geral, a omissão de informação que
sofreram sobre o Cristianismo, tocando até mesmo o vocabulário ligado a essa
parte da história da humanidade.
Recentemente, li um artigo contando
um episódio daqueles em que a gente tem vontade de dizer o verso de Billy Blanco, no
Canto Chorado: “O que dá pra rir dá pra chorar”. Não vou contar o enredo todo,
vou direto ao que interessa. É de lascar! Quando você vê um desses jovens
"intelectuais", dando sopa por aí, não saber de onde os compositores tiraram aquele verso
com o jogo de palavras cálice/cale-se, na canção de Chico Buarque e Gilberto
Gil,
"Pai, afasta de mim esse cálice",
e, realmente sem saber, rir em tom
de deboche, quando alguém comenta que é uma frase de Jesus... aí, a gente vê
que “a coisa tá feia, dá vergonha alheia”. Não é um desconhecido qualquer, não.
É Jesus Cristo – por causa dele, mudou-se até a contagem dos anos da nossa
civilização! Será que nem por isso não dá curiosidade de saber quem foi, sua
história?
Mas não é só no Brasil. Aqui na província
de Quebec, a virada contra a religião católica foi lá pelos anos 1960/70, numa
reação ao controle geral, amplo e irrestrito que a Igreja exercia sobre o
Estado e sobre a vida particular das pessoas. Os “Québécois” já blasfemavam por
herança dos franceses, mas criaram os seus próprios “sacres”, da metade do século XIX em diante. Seus palavrões são
palavras relacionadas ao vocabulário sagrado da Igreja Católica, um pouco
alteradas, não sei se pelo modo como falavam ou modificadas propositalmente.
Hoje, muitos jovens não sabem mais o
que essas palavras significavam, originalmente. Presenciei, certa vez, uma
jovem com nível de escolaridade superior perguntar o que queria dizer “tabarnak”, além de ser um palavrão. Até
eu que não sou francófona de origem soube de imediato que deveria ser alguma
corruptela de tabernáculo (tabernacle,
em francês) e, obviamente, sei o que é um Tabernáculo. Na minha opinião, isso
não é só falta de religião, isso é ignorância pura e simples.
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