quinta-feira, abril 05, 2018

Compaixão e dignidade


A vida inteira que podia ter sido e que não foi.” Manuel Bandeira

Seguindo a minha linha de raciocínio, deveria estar satisfeita com a condenação e denegação do Habeas Corpus preventivo pedido pela defesa do Lula. Mas confesso que não estou sentindo uma alegria completa, apesar de concordar que a Justiça agiu corretamente. Algo parecido com compaixão despontou no meu coração.
Creio que esse sentimento inesperado que brotou em mim é uma certa empatia para com o povo que depositou confiança nele, um dia, e que foi traído. Muitos sequer se dão conta dessa traição, afeiçoaram-se a ele, estão tristes porque foi condenado e vai ser preso – se for. Por migalhas de alegria, rasos e efêmeros degraus galgados no consumismo, tiveram a ilusão de estarem felizes, como havia sido prometido. No entanto, muitas de suas promessas não se realizaram, sequer foram feitas tentativas – e não foi por falta de tempo, ele esteve muitos anos no poder. Mais tarde, soube-se que Lula reservara as grandes somas de dinheiro para as transações medonhas com poderosos de todas as cepas, inviabilizando um futuro são e promissor para aqueles que tinham sido aparentemente beneficiados.
Eu mesma acreditei que o país poderia mudar e, provavelmente, teria votado no Lula em 2002, não estivesse passando uma temporada justamente no Brasil, muito longe da minha zona eleitoral, no país onde moro. Mas considero que votei, pois o teria feito se as circunstâncias geográficas não me tivessem impedido. Muita gente, como eu, acreditou. Que pena que ele perdeu essa chance.
O que estou sentindo pode ser nostalgia do “que poderia ter sido e que não foi” – treze... treze... treze. Não era para ser feliz? – Não, a única coisa a fazer, agora, é tocar o bonde.
Pausa: estava pensativa, escrevendo este texto, quando fui interrompida pela notícia do mandado de prisão do ex-presidente.
Interessante, estava justamente imaginando as condições da cadeia para o Lula – que o Juiz Moro já havia assegurado, no programa Roda Viva, que seriam com a devida atenção ao cargo ocupado pelo condenado, com todas as medidas para garantir sua integridade – quando saiu o despacho para decretar a prisão, mencionando as condições especiais que serão dadas a ele, por ter sido presidente. Lula fica devendo mais essa à população.
Muita gente devia estar preocupada – até o próprio condenado – como seriam essas condições, porque ele não tem curso superior e, no Brasil, existe esta aberração que favorece, ou melhor, que desfavorece os que não fizeram universidade. Tanta coisa tem que ser mudada no Brasil...
Assim como não deve haver diferença de tratamento nos julgamentos, nas condenações – pois todos são iguais perante a lei –, também nas cadeias não deveria haver desigualdade de tratamento para quem estudou ou não. E, convenhamos, as condições carcerárias deveriam ser melhoradas de um modo geral. Não consta da sentença proferida pelos juízes, obviamente, que os condenados sejam submetidos a situações degradantes, que ferem a dignidade do ser humano. A precariedade das instalações dos presídios no Brasil é uma crueldade que se equipara a muitos crimes pelos quais réus são sentenciados. Este é mais um item a incluir nas melhorias que o Brasil precisa implantar sem demora.
Chega, por hoje.

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