“A vida inteira que podia ter sido e que não
foi.” Manuel Bandeira
Seguindo a minha linha de
raciocínio, deveria estar satisfeita com a condenação e denegação do Habeas
Corpus preventivo pedido pela defesa do Lula. Mas confesso que não estou
sentindo uma alegria completa, apesar de concordar que a Justiça agiu
corretamente. Algo parecido com compaixão despontou no meu coração.
Creio que esse sentimento
inesperado que brotou em mim é uma certa empatia para com o povo que depositou
confiança nele, um dia, e que foi traído. Muitos sequer se dão conta dessa
traição, afeiçoaram-se a ele, estão tristes porque foi condenado e vai ser
preso – se for. Por migalhas de alegria, rasos e efêmeros degraus galgados no
consumismo, tiveram a ilusão de estarem felizes, como havia sido prometido. No
entanto, muitas de suas promessas não se realizaram, sequer foram feitas
tentativas – e não foi por falta de tempo, ele esteve muitos anos no poder. Mais
tarde, soube-se que Lula reservara as grandes somas de dinheiro para as transações
medonhas com poderosos de todas as cepas, inviabilizando um futuro são e
promissor para aqueles que tinham sido aparentemente beneficiados.
Eu mesma acreditei que o
país poderia mudar e, provavelmente, teria votado no Lula em 2002, não
estivesse passando uma temporada justamente no Brasil, muito longe da minha zona
eleitoral, no país onde moro. Mas considero que votei, pois o teria feito se as
circunstâncias geográficas não me tivessem impedido. Muita gente, como eu,
acreditou. Que pena que ele perdeu essa chance.
O que estou sentindo pode
ser nostalgia do “que poderia ter sido e
que não foi” – treze... treze... treze. Não era para ser feliz? – Não, a
única coisa a fazer, agora, é tocar o bonde.
Pausa: estava pensativa,
escrevendo este texto, quando fui interrompida pela notícia do mandado de
prisão do ex-presidente.
Interessante, estava
justamente imaginando as condições da cadeia para o Lula – que o Juiz Moro já
havia assegurado, no programa Roda Viva, que seriam com a devida atenção ao
cargo ocupado pelo condenado, com todas as medidas para garantir sua integridade
– quando saiu o despacho para decretar a prisão, mencionando as condições especiais
que serão dadas a ele, por ter sido presidente. Lula fica devendo mais essa à
população.
Muita gente devia estar
preocupada – até o próprio condenado – como seriam essas condições, porque ele
não tem curso superior e, no Brasil, existe esta aberração que favorece, ou
melhor, que desfavorece os que não fizeram universidade. Tanta coisa tem que
ser mudada no Brasil...
Assim como não deve haver
diferença de tratamento nos julgamentos, nas condenações – pois todos são
iguais perante a lei –, também nas cadeias não deveria haver desigualdade de
tratamento para quem estudou ou não. E, convenhamos, as condições carcerárias
deveriam ser melhoradas de um modo geral. Não consta da sentença proferida pelos
juízes, obviamente, que os condenados sejam submetidos a situações degradantes, que
ferem a dignidade do ser humano. A precariedade das instalações dos presídios
no Brasil é uma crueldade que se equipara a muitos crimes pelos quais réus são
sentenciados. Este é mais um item a incluir nas melhorias que o Brasil precisa
implantar sem demora.
Chega, por hoje.
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