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“O
Brasil não é para principiantes” Tom Jobim
Que o país está doente, não
resta a menor dúvida, mas é extremamente difícil chegar-se a um diagnóstico do
Brasil. A História, contudo, nos dá indícios que podem explicar alguns dos sintomas
e suas causas. A doença cujos sintomas mais se assemelham ao Estado/estado
brasileiro é a avareza. Políticos, empresários e governantes, que já são ricos, que já vivem
como nababos, continuam acumulando riquezas produzidas pelo povo, sem dar-lhe
retorno.
Comparações entre o
Capitalismo e a avareza já foram feitas por muitos autores. Mas esta explicação
não é compatível com a história mais recente do Brasil, aproximadamente nos
últimos 20 anos, quando o país esteve sob lideranças socialistas. Havia a esperança
de que tomasse novos rumos, com diminuição das desigualdades. No entanto,
vimos se multiplicarem, como nunca, quadros brutescos de avareza entre os
poderosos.
O avarento tem obsessão por
acumular dinheiro e não gastá-lo. Que razões levam uma pessoa a ter essa
atitude de ganhar dinheiro para guardar? Qual é o perfil psicológico de um
avaro? Segundo os entendidos, trata-se de uma pessoa que tem medo da incerteza
do futuro, ela é insegura quanto ao que pode vir a acontecer. Pode ocorrer
algum imprevisto, alguma desgraça. O avaro é pessimista, e o dinheiro é
sinônimo de segurança. A sua constante preocupação com o futuro o leva a evitar
gastar dinheiro.
Como em todos os males, há
graus de intensidade. Em casos extremos, a pessoa com esse distúrbio pode ter
pavor de ficar pobre no futuro. Cria-se um vício, ela precisa acumular riquezas
sempre mais e mais. O dinheiro passa a ser o seu objetivo de vida, e o fato de tê-lo
passa a ser fonte de supremo prazer, torna-se mais importante que todos os
outros elementos do seu cotidiano, transforma-se no motor de sua autoestima e,
até mesmo, motivo para se superestimar.
A figura do avaro aparece com
certa frequência em histórias de ficção, muito bem representada por personagens
tragicômicos. A arte é incomparável em sua capacidade de reproduzir os diversos
ângulos das feições humanas. O exemplo clássico é o do Sr. Scrooge, de Charles
Dickens.
Vários textos literários descrevem,
com maestria, esse desvio de caráter, entre eles o romance Un homme et son péché, do canadense Claude-Henri Grignon. É típica
a arrogância e ânsia de poder do seu personagem avaro, que esconde, trancado
em subterrâneos recintos, o seu ouro
precioso, conquistado às custas da exploração do alheio, incluindo a exploração
dos pobres. Na calada da noite, consciente de sua transgressão viciosa, mas sem
conseguir se desvencilhar do prazer que lhe propicia, ele visita seu tesouro,
solitariamente, para abraçá-lo e beijá-lo.
Esta imagem grotesca me veio
à mente ao ver casos de brasileiros famosos que, aproveitando de sua situação
de poder, se apoderaram do erário público, sob a forma de dinheiro em espécie,
obras de arte e até mesmo barras de ouro escondidas em cofres de segurança
máxima, tudo finalmente desmascarado e estampado nas primeiras páginas dos jornais, revelando esse perfil
que parece caricatural, mas que é tão real.
Em alguns casos, parece
haver situações em que governantes usaram a fraqueza moral dos avarentos para
pôr seus planos de poder em prática. Mesmo nos governos em que houve maior
generosidade para com os pobres, com a efetivação de programas sociais, e até partilha
com países irmãos, a avareza prevaleceu, pois o aparente “desapego” foi
compensado por somas exorbitantes em proveito desses próprios governos, seus
políticos e empresários “amigos”, desencadeando uma crise sem precedentes, que anulou o efeito da generosidade, deixando o brasileiro
pobre mais pobre ainda.
O que acontece no Brasil
foge a qualquer tipo de classificação ideológica, nenhuma teoria se encaixa com o
que é praticado no país. Só nos resta combater essa mórbida epidemia que nos
assola, impedir que haja recidivas com os mesmos infames agentes viciados –
estes precisam ser peremptoriamente impedidos de retornar ao cenário nacional,
onde haja a mínima chance de acesso ao poder. Temos que investir em uma
convalescença rigorosamente controlada da nação e é preciso agir rápido.
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