Não
nego que haja muitos mineiros que falam errado, uns por ignorância, outros por
gosto, mesmo conhecendo a língua portuguesa, demonstrando carinho para com a gente do sertão, da roça; é um jeito de falar que representa um modo de viver, perto da terra que nos alimenta e que nos dá vida.
Mas ainda não cedi direitos a essa versão de que não pronunciamos o “nho” dos diminutivos, como em “mineirim”, embora ache até "bunitim". Pronunciamos, sim, o final átono das palavras, só que é uma pronúncia "para dentro", que os outros nem sempre escutam. A articulação se faz dentro da boca, com um mínimo acompanhamento dos lábios; tem um som bem mais baixo que o resto da palavra.
Mas ainda não cedi direitos a essa versão de que não pronunciamos o “nho” dos diminutivos, como em “mineirim”, embora ache até "bunitim". Pronunciamos, sim, o final átono das palavras, só que é uma pronúncia "para dentro", que os outros nem sempre escutam. A articulação se faz dentro da boca, com um mínimo acompanhamento dos lábios; tem um som bem mais baixo que o resto da palavra.
Por
exemplo, se um mineiro falar "cafezinho" e "cafezim" (naturalmente,
sem forçar nada), eu saberei quando ele falou com o final da palavra e sem o
final da palavra. Os outros, que dizem que falamos "cafezim" em vez
de "cafezinho", vão dizer que ele falou "cafezim" duas
vezes.
Não
sei se me fiz compreender.
Outro
exemplo, agora com o meu marido, que é canadense. Quando ele ainda não sabia
nem português, nem “mineirês”, e eu fui apresentá-lo ao meu irmão caçula, eu
lhe disse o seu nome: Mário. Ele me perguntou: ele se chama Mári? Ele não ouviu
o "o" final. Atualmente, ele compreende muito bem o mineirês e
"ouve" perfeitamente os nossos sons ao final das palavras.
Já
para a percepção de um mineiro, há pronúncias de outros estados brasileiros que
carregam demais na sílaba final. Quando fiz um estágio na cidade de São Paulo,
tinha a impressão de que eles falavam o meu nome quase como os francófonos (não
pelo R do francês), eles pronunciam "Carmo" quase como uma palavra
oxítona: Maria do Carmooo... um "o" longo.
Interessante,
não? Tomamos por base os nossos parâmetros para "definir" os outros.
Como em tudo, afinal.
Já
que falei dos francófonos, para exemplificar também como tudo é bem relativo e
depende da percepção de cada um... Uma colega de trabalho aqui do Québec, certa
vez, comentou comigo que é falsa a impressão de que os francófonos falam
forçando na última sílaba, eles falam a maioria das palavras linearmente, sem
dar força maior a nenhuma sílaba.
Ao
dizer que sua pronúncia é linear e não com mais força na última sílaba, isso
pode valer para o francês. Para o português não vale, pois quando uma palavra é
paroxítona, por exemplo, a tônica é na penúltima sílaba, a pronúncia não pode
ser linear. Ao pronunciar a palavra linearmente, o falante está incorrendo no
erro de tirar força da penúltima sílaba e colocar na última.
Estas
coisas de percepção dos modos de falar são muito interessantes mesmo! Nós tentamos imitar a
pronúncia de outra língua, de acordo com o que ouvimos e com as habilidades que
temos no nosso aparelho fonador. Morando
no Canadá, principalmente no Québec, pude notar isso, mesmo com relação ao
inglês. Sem brincadeira, os francófonos ouvem o inglês de um modo bem diferente
do que alguém de língua portuguesa. Tenho a tendência a achar que, dentre os
que estudaram a língua (mas não viveram em países ou províncias onde se fala
inglês), nós pronunciamos melhor o inglês. E eles devem achar a mesma coisa –
que eles pronunciam melhor. E sei que acham pois me corrigem. Já cheguei a
falar com alguém, uma vez, rindo de mim mesma, que me deixasse falar o inglês
com meu sotaque de brasileira. Seria demais querer que, além do meu sotaque
brasileiro no inglês, fosse eu obrigada a acrescentar o sotaque quebequense.
Um
exemplo: o u de up, para eles é "ó", para mim tende mais para o
"a", embora não seja um "a" do nosso jeito. E por aí vai...
tenho inúmeros exemplos de outros fonemas que escutamos diferentemente, quando
um anglófono fala.
É
fácil constatar que cada povo tem o seu sotaque característico, ou por não
estar bem treinado para articular os sons que diferem dos que existem na sua
língua ou porque escuta diferente mesmo. Raros são os casos de estrangeiros sem
sotaque... sei que não é o meu caso, pois já
trabalhei com o público e, quando começava a falar, muitos me perguntavam de
onde vinha, por terem observado o meu sotaque de estrangeira.
Enfim, penso que é importante que sempre nos
esforcemos para falar o mais corretamente possível, para sermos compreendidos. No mais, "deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá".
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