segunda-feira, outubro 13, 2014

Recuo – cansada de sentimento de culpa




Esses últimos Governos do Brasil estão me dando tratos à bola... Estou fazendo uma certa terapia do meu Eu como brasileira. E agora vou “soltar a franga”. Não me surpreenderei se encontrar muitos que se sentirão enquadrados no mesmo caso e que poderão, assim, se liberarem num “insight” em grupo, que poderá, talvez, ser útil à nação.
Poderão dizer-me que não estou morando no país, portanto não estaria qualificada para opinar. Não concordo, pelo menos, não completamente. Realmente, estando fora, só posso ver de longe mesmo a situação do Brasil. E este fator quer-me parecer de uma certa utilidade. Como dizem os francófonos, quando querem ter uma visão mais ampla de um estado de coisas: “prenons du recul”... É o que estou fazendo. Não estou mais tão envolvida no desenrolar dos acontecimentos, embora ainda – e sempre – com a carga emocional e cultural de uma brasileira da gema, evidentemente.
Além do recuo em que me encontro – em distância – coloco-me também em uma viagem no tempo, ao passado – aí que vem o “pulo do gato”. Pois a nossa história é a “receita do bolo”, onde os ingredientes se misturaram e resultaram em uma guloseima que pode ser apetitosa para uns e muitas vezes indigesta para nós mesmos.
Vamos aos fatos, sem mais delongas. Falei em “soltar a franga”, em liberar... Isso mesmo. Estou cansada de ter sentimento de culpa. Temos que soltar a verdade toda agora, não podemos esconder mais nada, não podemos mais nos calar. Comecei meus primeiros estudos na pesada década de 60, época de mudanças – muita coisa boa aconteceu, mas teve também muita coisa ruim. Não vou enumerar tudo o que aconteceu nessa época, no mundo e no Brasil, não é o intuito do meu texto. Estou aqui fazendo uma análise do meu país, através do meu Eu brasileiro, repito.
O fato é que foi nessa época que eu, brasileira típica, ao começar a frequentar outros espaços que não o da casa paterna, ouvi de professores, até mesmo de alguns padres e freiras, chamados mais tarde de “engajados” – e eles estavam por toda parte – que pairava uma culpa sobre todos os cidadãos brasileiros que não fossem paupérrimos. E esta culpa nos foi martelada durante todo o percurso estudantil – sempre havia algum "engajado" para nos relembrar. Nossa família não era rica, não tivemos luxo algum na nossa infância, meus irmãos e eu. Com muito esforço, trabalho e privações de meus pais, conseguimos estudar até o nível universitário. Como tivemos condição de estudar, não fazíamos parte da população que não tinha acesso aos estudos – isto bastava para sermos enquadrados na turma da “culpa”. Que culpa? A culpa de haver pobres no país.
Isso até parece coisa do tipo “Pecado Original” – a gente herda a sentença sem ter cometido o crime. E, como já estávamos condicionados a aceitar esta condição de pecadores, desde a tenra infância, através dos ensinamentos catequéticos recebidos em casa e na igreja católica tradicional e majoritária no Brasil, o peso de sermos culpados de mais essa – a pobreza no Brasil – entrou sem muita dificuldade nas nossas cabeças já habituadas a fazerem o “mea culpa” (notem bem que não estou falando nada contra ensinamentos teológicos, estou só citando uma postura da população brasileira).
Assim, entraram em campo diversos perfis psicológicos, influenciados por correntes de pensamento vindas de outros lugares, adaptadas à situação nacional. Entre tantos, alguns encontraram, em um ideal socialista, um “deus” mais humano, mais “teorizável” em um nível mais prático; encontraram um jeito de se livrarem da alcunha de "pecadores", na medida em que fossem contra a situação e contra aqueles que não estivessem de acordo com eles. Mesmo que continuassem a viver exatamente da mesma maneira que os “culpados”. Alguns, mais afoitos e aflitos, resolveram combater o “pecado social dos outros" e se transformaram em guerrilheiros comunistas ateus, em verdadeiras “cruzadas” mortíferas. Nenhum desses grupos, no entanto, fazia parte da fatia da população que queriam defender e que nem mesmo sabia exatamente o que estava acontecendo.
Outros, ainda, aceitaram mais culpa para carregar na sua cruz, tentando encontrar soluções para os problemas sociais de maneira mais pacífica, seguindo, temerosos, as leis vigentes; estes representavam a “fatia” majoritária da população – não gosto de usar a etiquetagem já tão batida e arcaica, tal como foi definida, “classe social”. Mesmo porque os “pacíficos” vinham de diversas posições sociais.
Cito também outra parcela da população que rejeitou o sentimento de culpa completamente, achando que não precisava nem intervir; tratava-se de um grupo de pessoas  que estavam bem consigo mesmas e pronto. Mas penso que esta parcela da população que rejeitou a culpa e aquela que chamei de afoita e aflita, não foram representativas em número.
A maioria da população brasileira foi esmagada pelo sentimento de culpa, vivendo sob o peso do medo de alguma coisa mal definida – eu me incluo nesta maioria. E a Ditadura Militar que se instaurou só veio aumentar esta sensação amedrontadora já impregnada na alma. Isso é um resumo do que eu vi acontecer durante a minha juventude. Mesmo não sendo uma conhecedora de estudos sobre “classes sociais”, sou uma cidadã brasileira que viveu naquela época e tenho direito de dar o meu testemunho, desejando que ele contribua para um Brasil melhor.
É esta mesma índole para o sentimento de culpa que perdura ainda hoje, na população que mantém o país vivo, pois as crianças dos anos 60 é que formaram as famílias que existem hoje, é que foram os professores dos jovens de hoje – que receberam sua formação dada pelos brasileiros que vivenciaram os anos 60. É por essa razão, por causa do sentimento de culpa impregnado, que a população atual vem aceitando este Governo corrupto que está vilipendiando a nossa nação, sob a alegação de estar defendendo os pobres.
Enquanto isso, cresce a população criminosa que circula nas ruas, de uma certa forma, não claramente detectável, protegida pelas lideranças do governo. Por que aumentou tanto o número de bandidos no Brasil, nestes últimos anos? Certamente não foi porque a situação dos pobres melhorou. Estes governos do PT não fizeram nada para tentar reconduzir estas pessoas ao caminho da civilidade. Em vez disso, desviam dinheiro do país, como nunca antes aconteceu. A que ponto chegamos! Estamos vivendo uma aberração institucionalizada. Ninguém protege o cidadão honesto, que trabalha e que faz o país sobreviver. Parece até ser uma atitude proposital por parte do governo.
Tenho esperança de que a juventude do nosso país, não contaminada por organizações de poder, aquela juventude que teve coragem de sair às ruas e se manifestar contra a corrupção e o desgoverno, em junho de 2013, que ela se livre de toda culpa e se sinta igual a todos – porque todos estão sofrendo, “no mesmo barco” – que se sinta com o dever de defender os direitos de todo e qualquer cidadão, sem etiquetar nem quotizar seres humanos, que são pessoas iguais em direitos e deveres (esse sentimento de culpa pressupõe um certo sentimento de superioridade – pensemos nisso também).
Esta é a mensagem que quero transmitir, para livrar-me de sentimentos de culpa que me venham, porventura, assombrar. Precisamos nos manifestar para reivindicar mudanças, mas temos que fazer isso dentro da lei, para dar exemplo de civilidade! E não seguir modelos do passado, já amplamente ultrapassados, nem modelos de brutalidade que vemos no cenário atual do mundo.
Votar é um dos meios legais de que dispomos para reivindicar mudanças! Façamos nossa escolha tendo como princípio, a vontade de ter um país mais digno, sem corrupção, sem esta criminalidade que está se alastrando cada vez mais, a cada dia. Façamos bom uso do nosso justo direito de votar!

2 comentários:

  1. Maria do Carmos, são muito boas as suas reflexões sobre a política brasileira!
    Luiz Otávio de Lima Pereira

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