"A viuvez, como o casamento, é para o resto da vida."
Perguntaram-me por que eu, quase sempre, uso roupas pretas. Hesitei em responder, a pessoa não é portuguesa, não entenderia. Disse que sempre gostei de roupas mais escuras, entre cinza e preto. Não é mentira, sempre tive essa preferência, talvez para contrastar com o branco da profissão. Mas, ultimamente, há outro motivo: a viuvez. Embora eu não tenha roupas pretas suficientes para todas as ocasiões, gosto de usar, quando é possível.
A citação em epígrafe explica. Li esta frase em uma reportagem sobre aquelas viúvas portuguesas que guardam o luto, vestidas de preto, para o resto da vida [1]. É uma frase sem meandros, nem metáforas, sem concessões, nem permissão de intromissões, sem devaneios freudianos antediluvianos. É a verdade nua e crua. Para mim, é desse jeito. "A viuvez, como o casamento, é para o resto da vida."
As viúvas entrevistadas perderam seus maridos no mar — eram pescadores. Algumas dão a desculpa, em tom de pergunta, se aturariam outro a impor condições nos seus cotidianos — pura retórica, para não se passarem por melosas, querem ser duronas; mas eu sei que o motivo é o amor insubstituível pelo falecido. Outras confessam o sentimento que lhes acompanha sempre, junto com os retratos de seus homens, que "balouçam-se no peito... presos por fios de ouro".
Meu marido tinha paixão pelo mar, por velejar. Não por profissão, mas era um homem do mar. Certa vez, chegou a dizer que seria morte feliz, morrer no mar.
Sou como essas viúvas, minha porção de DNA português prevaleceu 😊 — portuguesa com certeza. Gosto de usar roupas pretas e meu amor também balouça no meu peito, preso por fio de ouro. Identifico-me com essas mulheres de homens do mar. O meu continua presente em mim [2] e sempre estará.
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[2] Uma só carne
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