domingo, abril 19, 2020

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Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.”
(At 2,44-45)
Nestes tempos de pandemia COVID-19, estou levando a vida “un jour à la fois”, preocupando-me em fazer o melhor que posso, dentro das limitadas possibilidades. Estou tentando me programar para deixar meu lado científico – já aposentado, sim, mas ainda não totalmente inutilizado – sobrepujar o lado melancólico-poético. Ou seja, estou procurando ser mais realista.
Para quem não está no front da batalha, nem nos serviços essenciais, resta o confinamento e o distanciamento social, sem previsão certa para acabar. Essa limitação provoca, inevitavelmente, uma sensação de impotência e angústia. Muitas pessoas chegam a se desesperar. Dá a impressão de que não estamos fazendo nada. Mas esta contenção é muita coisa,  é o melhor que podemos fazer, por enquanto, até que as vacinas em estudo possam ser usadas.
Para os idosos que têm internet e renda garantida, as circunstâncias parecem mais favoráveis. Podem-se comunicar facilmente e não lhes faltam víveres – pelo menos, nesses primeiros tempos de pandemia. Mas, na realidade, a situação não é das melhores, pois estão no grupo de risco, pelo fato de sua faixa etária ser especialmente mais vulnerável a este vírus. Não podem vacilar, precisam seguir rigorosamente as diretrizes de confinamento e distanciamento social.
Tem-se que cooperar não só em causa própria, mas também para não sobrecarregar os hospitais e os profissionais de saúde, como já aconteceu em muitos lugares, onde nem havia mais lugar para tanta gente necessitando atendimento, com mortes que, provavelmente, poderiam ter sido evitadas.
Não podemos nos esquecer dos desempregados de antes e de agora, dos pequenos e médios empresários que podem falir com tudo parado... A situação é também tétrica nesse aspecto. Como viver sem ter dinheiro para comprar alimento? Por mais que haja voluntários fornecendo comida, não vai ser suficiente quando a quantidade de necessitados for muito grande.
Minha sugestão vem da primeira leitura da missa deste domingo, dos Atos dos Apóstolos, no trecho que destaquei em epígrafe: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.” (At 2,44-45) À primeira vista, é uma proposta que jamais será aceita... Será? Por que não? Se todos os ricaços do mundo decidissem, de bom grado, partilhar pelo menos uma parte do que têm com os necessitados, como faziam os primeiros cristãos, ao menos enquanto precisa durar o confinamento, que maravilha que seria!
É preciso que seja decisão de cada um, nada de governos estabelecendo critérios, para que não se transforme em autoritarismo e tirania. Sei que muitos indivíduos bem aquinhoados já fizeram doações, mas seria necessário que velassem para que todos os seres humanos estivessem assistidos em suas necessidades. Quem sabe se algum desses ricaços propusesse um mutirão?
Quero crer que, mesmo após passado o risco de contágio, o mundo seria outro, tudo e todos se transformariam.O exercício do desapego é terapêutico, faz muito bem também a quem se desapega.

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