Day after Irene |
Pelo visto, o nome “Irma” vai
ser retirado da lista de denominações dadas aos furacões. Quando um fenômeno
desses causa um impacto muito grande, com mortes e destruição, o nome é
substituído por outro, naquela lista. Melhor explicando, são várias listas de nomes, cada uma é
reutilizada de seis em seis anos. Os nomes de furacões que causaram mortes e
muitos danos são removidos.
Mesmo tendo sido
substituído, não posso me esquecer do predecessor de Irma, o furacão Irene. Em
2011, ele passou por aqui, após provocar mortes e destruição no Caribe e em
vários estados americanos. Irene já estava rebaixada a tempestade quando nos
visitou no Quebec, mas deixou sua marca destrutiva por aqui também, com ventos
atingindo até 110 km/h, desenraizando árvores, quebrando galhos, derrubando
postes, destelhando casas, além de causar inundações, panes de eletricidade e
até mesmo a morte de uma pessoa.
Acompanhamos atentamente as
notícias sobre seu comportamento, pois dias antes de chegar aqui, já anunciavam
que deveríamos estar na sua rota. Cada vez que diminuía de força, eu sentia um
alívio. Mas Irene oscilou muito, quando pensávamos que já tinha acalmado após
entrar em terra nos Estados Unidos, ela tomava novo fôlego, no mar... E lá
vinha ela... Deu para ter uma ideia do stress por que passam todo ano, as
pessoas que vivem no corredor dos furacões. Terrível!
Na véspera da sua chegada,
amarramos objetos que estavam do lado de fora de casa em troncos de árvores
mais possantes do nosso terreno, tudo que poderia ser deslocado pelos ventos ou
pela correnteza do rio que, provavelmente, transbordaria. Dentro de
casa, colocamos em um nível mais alto coisas que poderiam ser danificadas pela
água.
As previsões anunciavam que
Irene estaria “rodando a baiana” em nossa região no dia 28 de agosto de 2011, por volta
de meia-noite. Lembrei-me de um dito que minha mãe dizia: “Deixa o pião rodar,
por volta da meia-noite, o pião pega a parar”... Que nada! Foi o contrário, foi
só piorando. Pela manhã, já tinha começado a ventar e a chover e foi só num
crescendo. O dia escureceu, a visibilidade era quase nula.
O vento era tão forte que a
gente sentia como se a casa estivesse sendo empurrada mesmo, além de receber
chicotadas intensas e frequentes. O barulho parecia de trovão continuado. A
certa altura, alguma coisa caiu sobre o telhado, fazendo um estrondo. E, a cada
vez que vinha uma rajada de vento mais forte, ouvíamos o barulho de algum
objeto batendo no telhado.
Não é aconselhável, sob
ventos tão intensos, chegar perto das janelas, pois o vidro pode quebrar e os
estilhaços podem nos machucar. Mas, como o barulho vinha exatamente do ponto
onde a fiação que vem do poste da rua entra na casa, fui olhar pela janela o
que tinha caído. E pude constatar que havia um galho de árvore apoiado no fio! Pronto,
entrei em estado de alerta, para não dizer pânico, com medo de um incêndio.
Meu marido tentava me
acalmar, dizendo que não podíamos fazer nada, então, o melhor era relaxar.
Fácil falar... Eu não conseguia sossegar. Telefonei para Hydro-Québec (a
companhia de energia elétrica) e nada... Resolvi, então, tentar o serviço de
urgência da nossa cidade. Pensei que não adiantaria, com um vento daqueles, a
recomendação era para ninguém sair. E nossa casa, ainda por cima, fica
afastada da cidade.
Tentei assim mesmo e, para
minha surpresa, um bombeiro de alma caridosa conversou calmamente comigo, pelo
telefone, tentando me tranquilizar, e prometeu que viriam analisar a situação.
Pronto, agora era hora de rezar para que não acontecesse nenhum acidente com
ele.
Vieram mesmo, e no pior da
tempestade! Santo Corpo de Bombeiros, que sempre nos socorre, nos piores
momentos. Eles recebem uma formação invejável, e no mundo inteiro são assim.
Deus os abençoe!
Examinando o galho caído,
notaram que havia uma parte apoiada no telhado, que o sustentava. Apesar de não
poderem garantir que o vento não causaria mais problemas, não podiam fazer
nada, teria que ser mesmo a Hydro-Québec, por se tratar de envolvimento da
fiação elétrica. De qualquer modo, deixaram conosco novos números de telefone,
em caso de necessidade.
Continuei telefonando
incessantemente para a companhia de eletricidade, até conseguir falar com eles.
Estavam sobrecarregados com várias quedas de árvores e postes, muitos clientes
em pane, casos mais urgentes. Mas ficaram de vir logo que pudessem.
Foi uma noite horrível. Um
pesadelo! Nem sei se dormi algum tempo.
No dia seguinte, pasmem, sol
e céu azul. Até a inundação já havia diminuído. Apesar do cansaço pela noite de
terror, o bom tempo renovou minhas energias. Fomos lá fora ver os estragos,
bati fotos... Até pude fornecer uma foto de nossa rua inundada a uma jornalista
da nossa cidade, que viu a imagem que postei no Facebook e me pediu. A foto
saiu na primeira página do jornal da região.
Viver não é fácil, os
desafios são muitos, cada lugar do planeta tem seus problemas. Mas o instinto de sobrevivência é muito forte.
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