quarta-feira, junho 07, 2017

Declínio do mundo católico

"Ecce Homo" by Antonio José Vieira, acervo fotográfico
de Chico Lima, cópia autorizada pelo autor.



O Evangelho de 5 de junho me incitou a uma reflexão interessante. Para não repetir com minhas palavras, com risco de deturpar alguma coisa, transcrevo aqui o Evangelho de São Marcos, 12,1-12: “Naquele tempo, 1Jesus começou a falar aos sumos sacerdotes, mestres da Lei e anciãos, usando parábolas: “Um homem plantou uma vinha, cercou-a, fez um lagar e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou a vinha a alguns agricultores, e viajou para longe. 2Na época da colheita, ele mandou um empregado aos agricultores para receber a sua parte dos frutos da vinha. 3Mas os agricultores pegaram no empregado, bateram nele, e o mandaram de volta sem nada. 4Então o dono da vinha mandou de novo mais um empregado. Os agricultores bateram na cabeça dele e o insultaram. 5Então o dono mandou ainda mais outro, e eles o mataram. Trataram da mesma maneira muitos outros, batendo em uns e matando outros. 6Restava-lhe ainda alguém: seu filho querido. Por último, ele mandou o filho até aos agricultores, pensando: ‘Eles respeitarão meu filho’. 7Mas aqueles agricultores disseram uns aos outros: ‘Esse é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa. 8Então agarraram o filho, o mataram, e o jogaram fora da vinha. 9Que fará o dono da vinha? Ele virá, destruirá os agricultores, e entregará a vinha a outros. 10Por acaso, não lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular; 11isso foi feito pelo Senhor e é admirável aos nossos olhos’?” 12Então os chefes dos judeus procuraram prender Jesus, pois compreenderam que havia contado a parábola para eles. Porém, ficaram com medo da multidão e, por isso, deixaram Jesus e foram-se embora.
Apesar da interpretação quase ao pé da letra por parte da ala autoproclamada “progressista” da Igreja Católica, no Brasil, como se não fosse uma parábola, ou seja, fazendo uma leitura politizada que denuncia as injustiças para com os operários oprimidos, a interpretação oficial da Igreja Católica é outra, mais abrangente, não se limita às peculiaridades dos povos do terceiro mundo.
Para corroborar a conotação mais espiritual, digamos assim, da parábola, logo nos versículos seguintes, vem a famosa frase de Jesus “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, ao ser indagado se deviam pagar os impostos.
Entende-se, por esta parábola, que o homem que plantou a vinha é Deus, a vinha é o povo, os agricultores são as autoridades que guiam o povo (os sacerdotes e homens da lei). Os empregados enviados são os profetas, pessoas inspiradas, consideradas porta-vozes da palavra de Deus. O Filho é Jesus, a própria Palavra de Deus, enviada em última instância.
Em suma, as autoridades conduziram o desenvolvimento do povo sem respeitar que havia um retorno a Deus, rejeitando os profetas enviados para cobrá-lo. Por isso, Ele diz que Deus destruirá essas autoridades e dará o seu povo a outros que sigam Jesus. O Evangelho diz, ainda, que os chefes dos judeus com quem Jesus falava compreenderam que o que Ele estava dizendo se referia a eles e quiseram prendê-lo, mas ficaram com medo da multidão.
Enfim, estava sendo confirmado ali o resgate “do que é de Deus” na “vinha”, por Cristo ressuscitado – a Pedra Angular – e por seus seguidores.
E, hoje, os seguidores de Cristo da Igreja Católica, que conduzem o povo, estão cultivando nele o que é de Deus? Ou será que também não estão ouvindo mais seus profetas, que são seus santos? E o Cristo? Será que também O estamos jogando para fora da “vinha”, enquanto ficamos voltados só para o que é deste mundo?
É fácil constatar que o Catolicismo está em franco declínio no chamado primeiro mundo, onde os ateus vêm-se tornando maioria. Nos países do terceiro mundo, eufemisticamente chamados “em desenvolvimento”, há aqueles em que o Cristianismo, de um modo geral, nunca foi e continua não sendo significativo; há os países onde havia maioria católica e que estão apresentando uma tendência semelhante à do primeiro mundo ou uma nítida debandada para outras correntes do Cristianismo; e há aqueles em que existe uma ilusão de que a Igreja Católica esteja em crescimento. O número de adeptos cresce, é verdade, mas digo que é ilusão porque foge em direção diametralmente oposta à verdadeira libertação do ser humano, quando alia-se ao mundo político, nesses países, deixando-se cooptar por partidos que se asseveram seguidores de ideologias que supostamente privilegiariam os trabalhadores oprimidos. Na realidade, como sabemos, isso sequer acontece, pois a corrupção sistêmica predomina e continua mantendo os pobres enganados com as esmolas dos programas sociais, que servem, ao mesmo tempo, para apaziguar a consciência dos mais aquinhoados que embarcam nessa jogada. Nada mudou, finalmente.
Mas... e se conseguissem levar a sério, com rigor, uma proposta que resultasse numa sociedade mais igualitária, onde não houvesse oprimidos? Parece ser o objetivo dos seguidores bem intencionados da Teologia da Libertação que se infiltrou na Igreja Católica. Ótimo objetivo! E esse objetivo não é só deles. Mas a “libertação” do ser humano se resume a isso? Para o católico que anseia ser resgatado por Jesus, não. Há muito mais.
Que coisa perversa usar o Cristianismo no discurso comunista... ou socialista, como fizeram e fazem alguns seguidores da Teologia da Libertação, bem intencionados ou não. Tantos caíram e ainda estão caindo nessa esparrela!
Chego a duvidar de que alguns padres em plena atuação, hoje em dia, ainda acreditem em Deus, ou se falar em Deus não se transformou puramente numa linguagem “institucional”. Esses estão jogando o Cristo para fora da “vinha”. Precisamos de “outros”!
E os cristãos que estão sendo martirizados e perseguidos? Sim, isso está acontecendo nos dias de hoje. A igreja está tomando providências para que cesse essa perseguição?

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