domingo, maio 28, 2017

Educação e circunstância




Hoje, me perguntaram como se explicaria um país que tem um índice baixíssimo de criminalidade, como o Canadá, com uma suposta facilidade para o porte de armas. Achei interessante escrever sobre isso, pois pode ajudar outros povos, quem sabe.
Não sou especialista no assunto, não conheço as regras. A criminalidade aqui é muito baixa mesmo, as casas não têm muros nem cercas, as portas normalmente não são trancadas.
Embora não conheça as leis, sei que as pessoas não podem sair armadas, a não ser que sejam soldados, agentes de segurança e afins, ou se forem caçadores em temporada de caça, longe de áreas residenciais, bem entendido. Não sendo caçadores nem policiais, os canadenses nem têm costume de ter armas.
No caso dos caçadores, eles precisam ter licença para terem suas armas. Tudo aqui tem que ter licença. Até para pescar no fundo do seu quintal, o cidadão tem que ter uma licença, com carteirinha e tudo. O pessoal respeita. Se alguém é visto com uma arma fora da temporada de caça para aquele tipo de arma, pode saber que a polícia não tardará a abordá-lo.  
Para dar uma ideia de como a coisa se passa, imaginem que alguém está em sua própria casa, limpando sua arma, por exemplo, e chega alguma visita. O morador não pode recebê-la com a arma na mão, pois isso é considerado uma ameaça que pode e deve ser denunciada.
Mas, na verdade, penso que a baixa criminalidade aqui no Canadá não tem nada a ver com o fato de possuir ou não armas, ter ou não registro delas. É mais uma questão de educação e circunstância. Devido às condições climáticas dificílimas, o pessoal tem o espírito mais voltado à ajuda mútua. Isso influencia muito no modo de ser. Existe sempre um pensamento latente na cabeça das pessoas em relação às outras, se elas podem estar precisando de alguma coisa, se tudo está funcionando bem.
Este ano, por exemplo, que houve muitas inundações após o degelo, no início da primavera, recebemos vários telefonemas (perdi a conta de quantos), para saber se estávamos bem, como o rio estava se comportando, se precisássemos que podíamos ir para a casa deles. Não só gente da família, amigos também. No inverno, igualmente, eles se preocupam muito. Mas não é com ansiedade nem medo. É uma coisa que faz parte dos pensamentos cotidianos deles. As crianças crescem vendo exemplos de solidariedade nestas latitudes de clima hostil, isso fica internalizado como padrão de conduta.
Devo ressaltar que o meu testemunho vem do meio rural, onde moro. Nas cidades grandes, onde há muitos descendentes de estrangeiros, não sei se é do mesmo jeito. Mas creio que sim, as pessoas acabam assimilando o jeito de ser do local. Tanto é que a criminalidade é baixíssima também lá.
Vivo numa área mais retirada, não há postes de luz na rua. Costumamos deixar a lâmpada do lado de fora acesa, principalmente no inverno, para o caso de alguém precisar de auxílio. Saudades do Brasil de minha infância, nos idos dos anos 1950/60, quando havia essa atitude também. Era outro mundo! Morávamos num lugar onde havia poucas casas e a iluminação pública era precária. Meu pai nos ensinou que tínhamos que deixar alguma luz acesa em casa, para iluminar o caminho de algum transeunte e, no caso de alguém precisar de ajuda, saber onde bater à porta.

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