Hoje, me perguntaram como se explicaria um país que tem um índice baixíssimo
de criminalidade, como o Canadá, com uma suposta facilidade para o porte de armas. Achei interessante escrever sobre isso, pois pode ajudar
outros povos, quem sabe.
Não sou especialista no
assunto, não conheço as regras. A criminalidade aqui é muito baixa mesmo, as casas
não têm muros nem cercas, as portas normalmente não são trancadas.
Embora não conheça as leis,
sei que as pessoas não podem sair armadas, a não ser que sejam soldados,
agentes de segurança e afins, ou se forem caçadores em temporada de caça, longe
de áreas residenciais, bem entendido. Não sendo caçadores nem policiais, os
canadenses nem têm costume de ter armas.
No caso dos caçadores, eles
precisam ter licença para terem suas armas. Tudo aqui tem que ter licença. Até
para pescar no fundo do seu quintal, o cidadão tem que ter uma licença, com
carteirinha e tudo. O pessoal respeita. Se alguém é visto com uma arma fora da
temporada de caça para aquele tipo de arma, pode saber que a polícia não tardará
a abordá-lo.
Para dar uma ideia de como a
coisa se passa, imaginem que alguém está em sua própria casa, limpando sua
arma, por exemplo, e chega alguma visita. O morador não pode recebê-la
com a arma na mão, pois isso é considerado uma ameaça que pode e deve ser
denunciada.
Mas, na verdade, penso que a
baixa criminalidade aqui no Canadá não tem nada a ver com o fato de possuir ou
não armas, ter ou não registro delas. É mais uma questão de educação e
circunstância. Devido às condições climáticas dificílimas, o pessoal tem o
espírito mais voltado à ajuda mútua. Isso influencia muito no modo de
ser. Existe sempre um pensamento latente na cabeça das pessoas em relação às
outras, se elas podem estar precisando de alguma coisa, se tudo está
funcionando bem.
Este ano, por exemplo, que
houve muitas inundações após o degelo, no início da primavera, recebemos vários
telefonemas (perdi a conta de quantos), para saber se estávamos bem, como o rio
estava se comportando, se precisássemos que podíamos ir para a casa deles. Não
só gente da família, amigos também. No inverno, igualmente, eles se preocupam
muito. Mas não é com ansiedade nem medo. É uma coisa que faz parte dos
pensamentos cotidianos deles. As crianças crescem vendo exemplos de solidariedade nestas latitudes de clima
hostil, isso fica internalizado como padrão de conduta.
Devo ressaltar que o meu
testemunho vem do meio rural, onde moro. Nas cidades grandes, onde há muitos
descendentes de estrangeiros, não sei se é do mesmo jeito. Mas creio que sim,
as pessoas acabam assimilando o jeito de ser do local. Tanto é que a
criminalidade é baixíssima também lá.
Vivo numa área mais retirada, não há postes de
luz na rua. Costumamos deixar a lâmpada do lado de fora acesa, principalmente
no inverno, para o caso de alguém precisar de auxílio. Saudades do Brasil de
minha infância, nos idos dos anos 1950/60, quando havia essa atitude também. Era outro mundo! Morávamos num lugar
onde havia poucas casas e a iluminação pública era precária. Meu pai nos
ensinou que tínhamos que deixar alguma luz acesa em casa, para iluminar o
caminho de algum transeunte e, no caso de alguém precisar de ajuda, saber onde
bater à porta.
Iluminar o caminho do transeunte... Yvon!
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