Um projeto chamado “Memorial Inumeráveis” está sendo realizado pelo artista Edson Pavoni e pelo empreendedor social Rogério de Oliveira, contando com outros colaboradores que foram se juntando, de acordo com o que li na internet, sobre o assunto.
Quem me deu notícia sobre esse trabalho foi Inez Werneck, psicóloga, pessoa adorável, admirável, com quem tenho o privilégio de estar sempre em contato, todos os dias, e que, juntamente com seu marido, meu querido primo-irmão José Carlos (psicólogo também), tem me ajudado imensamente nos momentos difíceis por que tenho passado. Viva a internet que nos permite essa comunicação!!!
Vale a pena assistir ao vídeo no link que ela me indicou:
Neste vídeo, Edson Pavoni fala de seu projeto e Cris Guerra fala do livro que escreveu para o filho, que se baseia em princípio semelhante, ou seja, personificar alguém que morreu. No projeto “Inumeráveis”, a ideia é nos tirar da anestesia que nos assola, ao ver os números de mortos por COVID-19 que nos são apresentados todos os dias; é nos mostrar que são pessoas com suas próprias histórias e que amaram e foram amadas. No livro da Cris Guerra, ela quer fazer seu filho conhecer o pai, que morreu antes de seu nascimento; mostrar para ele um pai vivo na memória. Só assistindo ao vídeo, para quem quiser se inteirar melhor dessa ideia.
Não ser apenas um número, ter sido alguém amado, dentro de um contexto, fez-me pensar no que a gente aprende no Catecismo e nas Escrituras, que Deus nos ama, cada um de nós, individualmente, com nossas particularidades. Como estou numa fase de tentar ter mais fé e amor a Deus, tenho enxergado tudo com outros olhos.
Tudo isso para dizer que senti a iniciativa desse projeto “Inumeráveis” como um exemplo do que dizemos ser “à imagem e semelhança”. Sim, esse memorial procura distinguir cada um, individualmente, com sua história e suas circunstâncias, para que não sejam números anônimos. Parece ser um impulso inspirado divinamente.
Quando disse, no início, que tenho passado por momentos difíceis, referia-me ao luto pela morte do meu marido, recentemente. Não foi por COVID-19, não se aplica ao memorial. No meu caso, a ênfase da realidade de um número a menos aconteceu quando preenchi o formulário de Recenseamento do Canadá, que foi realizado durante este mês de maio de 2021. Ter que simplesmente omitir sua presença aumentou minha dor, que já era intensa, estando ele tão presente na minha história e na de tanta gente.
Meu marido não era alguém que passasse despercebido, ele tinha uma presença marcante, assim como forte era sua personalidade. Tinha força de vontade, determinação e empenho exuberantes. Era vigoroso na defesa do que julgava justo e correto, tinha a mente aberta, era “franco e saudável”. Às vezes, incompreendido. Foi muito amado e amou tanto ou mais ainda. Sempre jovial, não se deixava abater por qualquer coisa.
E como sua irmã escreveu tão lindamente sobre ele, em sua homenagem, ele amava a liberdade, entre outras coisas. Tenho motivos para crer que continua sendo muito especial, lá onde está, agora totalmente livre das amarras deste mundo.
Rezei muito por ele, pedi muito a Nossa Senhora, queria que ele ficasse bem de saúde, que não sofresse tanto. Finalmente, pedi o que fosse melhor para ele e que fosse salvo para a eternidade; que tivesse uma boa hora de passamento, amparado por São José.
A Virgem Maria, medianeira, tem doçura indescritível. Quando abrimos, de verdade, o nosso coração às graças e consolações, nós obtemos – eu obtive muitas. Para serenar meu espírito, ela me fez sentir, através de sinais do dia a dia, que meu marido já era muito amado, com presença marcada também do lado de lá. Sinais nada fantásticos em si mesmos, mas perceptíveis pelo coração.
O memorial da humanidade é imenso, repleto de criaturas que são amadas – amáveis. E é na esperança do reencontro na glória do Pai, por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo, que me fortaleço no enfrentamento do luto! O reencontro é inimaginável – toda a energia do universo acumulada no amor de todos nós em uníssono – muito mais lindo que o azul de notre amour bleu.
Os cépticos dirão que enlouqueci. E eu direi... Amém Amém Amém Amém Amém Amém...
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