sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Alegrias do inverno no Québec

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Botas bonitinhas, na moda? Deixa pra lá. Passei da idade e... ó... não sou canadense desde criança. Apesar de todo o esforço que faço para me integrar, não é a mesma coisa. Não estou reclamando. É que não sou hábil em esportes. Não sei sair deslizando, elegante, no "Holiday on ice" nosso de cada dia. Nada como minhas velhas botas de inverno. Não são lindas :-) mas – tabarnoush ! – são boas.
Mesmo assim, todo cuidado é pouco. Há que se desconfiar de todos os "chãos", nem sempre estão completamente "descongelados" e seguros. O pequeno trajeto entre o lugar onde estacionamos o carro e a entrada de um estabelecimento qualquer pode representar um risco terrível. Por isso, não banco mais a valentona, trato de colocar meus “crampons” para não escorregar.  
Este ano, não precisei ir buscar meus presentes de Natal, enfrentando as intempéries. Os que ganhei vieram até mim, ainda bem. Ano passado, fui a uma loja, cuja entrada estava um horror. Do passeio até a porta, uns 20 metros. Vou ou não vou? – me perguntei, olhando para o pequeno trecho que, pelo estado glacial, parecia sem fim. "Crampons" dentro de uma sacolinha... – Calço ou não calço? Antes de entrar, teria que retirá-los para não estragar o piso da loja. Arrisquei só de bota mesmo. Lá fui eu, andando como um pinguim, procurando pequenas "poças" de neve, menos escorregadias, em meio a médias e grandes lombadas de gelo duro como rocha. Não, não é redundância dizer gelo duro como rocha. Só vivendo aqui para compreender essas intensidades.
Pequena verificação se estava sendo observada na minha desenvoltura de anciã: olhei para todos os lados, discretamente, dei de cara com dois rostos atentos, do outro lado do vidro da porta da loja. Envergonhada, pensei em me apressar, mas meu Anjo da Guarda me advertiu que seria imprudente. Calma, o que você prefere: uma perna quebrada ou uns risinhos até bons para alegrar o dia?
Finalmente, consegui atravessar o oceano. A porta se abriu e duas gentis vendedoras me perguntaram, quase em coro, se estava muito escorregadio, se desculpando pelo mau estado da entrada. Aliviadas todas, passamos ao que interessava: escolher alguma peça da loja com o cartão-presente que ganhara do maridão. Esta parte foi bem mais agradável :-)
Esta é uma das pequenas alegrias do inverno: conseguir escapar de cair no gelo. Mas parece que eu estava fadada ao tombo, naquele ano. Alguns dias mais tarde, após outro coquetel meteorológico, sofri minha primeira queda... Esperando que seja a última. Not so bad, anyway... uma vez em 18 anos morando no Québec! Apesar de ser extremamente cuidadosa, falhei.
Ao sair da porta de casa, olhando para minha bolsa, já meio inclinada para a frente, sem prestar atenção no piso, meus pés derraparam para trás; num reflexo, minhas mãos – enluvadas – foram se apoiar no chão e também saíram escorregando, para a frente, a bolsa lançada ao ar. Voilà, esparramei por completo e fui deslizando, deitada, até a beirada da escada. Quase saí em voo livre. Por sorte, o show parou poucos milímetros antes dos degraus... Que cena!
Fora uma dorzinha no joelho esquerdo e no punho direito, não houve maiores estragos. Outra alegria do inverno: aprumar-se de um tombo e constatar que não está com tudo quebrado. Como sempre na vida, sobrevivemos aos males todo o tempo, para construir nossa alegria de viver. Quando ninguém se machuca, pode até ser engraçado. Contudo, é preciso muito cuidado, pois o que parece cômico pode ficar trágico.
Mas há muitas vantagens macro e microbiológicas em ter um inverno glacial. Para dizer a verdade, somos de sorte!

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