"Ecce Homo" by Antonio José Vieira, acervo fotográfico de Chico Lima, cópia autorizada pelo autor. |
Se lançamos um olhar grande angular sobre a cena da escolha entre Jesus
e Barrabás, sob Pôncio Pilatos, numa análise para além do âmbito religioso e
geográfico, podemos tirar conclusões fascinantes. Percebi isso recentemente,
quando tive um insight a propósito da atuação liderada pela ala progressista da
Igreja Católica no Brasil, baseada na famosa Teologia da Libertação, o que me levou a considerações mais amplas sobre a humanidade. Em uma
crônica que escrevi em 22 de julho passado, deixei claro que a impressão que tenho dessa ala da igreja é
que ela, exatamente como aquelas pessoas que estavam diante de Pilatos, optou
por Barrabás (pelo que Barrabás representava); não por Jesus. Nem todos, claro,
nem todos.
(http://maviemontfils.blogspot.ca/2016/07/caos-civilizatorio.html).
(http://maviemontfils.blogspot.ca/2016/07/caos-civilizatorio.html).
Quem era Barrabás? Achei dados muito interessantes em minhas pesquisas;
devo ressaltar que as fiz somente pela internet e, apesar disso, encontrei um
considerável volume de informações e suposições em torno desse personagem e da
circunstância relatada na Bíblia, que parece ser o único documento no qual ele
é citado. Em Marcos 15: 7 lê-se:
“E havia um chamado Barrabás, que, preso
com outros amotinadores, tinha num motim cometido uma morte.” E isso é tudo
o que há de mais detalhado, como documento.
Há hipóteses as mais diversas, mas a que acho mais plausível é a de que
Pilatos tenha mesmo “lavado as mãos”. Sendo o Direito Romano muito prezado
pelos homens da lei, ciosos que eram da sua evoluída legislação, seria razoável
que Pilatos não quisesse cometer uma gafe ao condenar um inocente, para o qual
não encontrara crime algum, como diz o Evangelho. Então, mandou flagelá-lo e,
ao apresentá-lo desfigurado, em sofrimento, tinha a intenção de provocar o
sentimento de compaixão na multidão, pensando que Jesus seria liberado da
sentença, dessa maneira. Como o povo continuasse a manifestar o desejo de que
ele fosse crucificado, ainda para livrar-se do crime de condenar um inocente,
resolveu propor a escolha de um preso para ser solto, seguindo um costume da
Páscoa, naquela época. Como Barrabás tinha cometido um homicídio num
motim, Pilatos pensou que a multidão escolheria liberar Jesus da condenação.
Mas ainda assim não foi o que ocorreu. E Jesus foi crucificado.
O fascinante disso tudo é que, seja lá qual for a
verdade sobre Barrabás nessa passagem, aquilo que ficou relatado, seja por que
motivo for, foi o antagonismo entre os dois, entre o que eles significam para a
humanidade. É de arrepiar, pois o que ficou registrado para a posteridade é o
que interessa como mensagem da Palavra, é o que define o caminho inovador para
o homem: Ecce Homo.
Jesus é aquele que proclamou o amor a Deus acima de
tudo e ao próximo como a si mesmo[1]. Jesus é aquele que pregou a não violência de modo radical (“oferece a outra face”) e o total
desapego ao que é material[2]. Jesus é aquele que mostrou ao rico e também ao pobre[3]
a opção de partilhar, de doar tudo o que tem e segui-lo, como único caminho de
salvação[4].
Tem que ser uma escolha de cada um. Ele não pregou revoluções para
tomar de César o que é de César.
E Barrabás? Barrabás
era um rebelde contra o Império Romano opressor. Ele participava de motins, de
atos de violência, contrariamente ao que Jesus pregava. Não precisamos analisar
esta passagem com olhos “igrejeiros”. Está evidente que a colocação dos dois
diante da multidão, para serem objeto de escolha, apesar de não ter tido caráter ideológico à
época, ficou como uma lição de Vida, , no mínimo uma aula civilizatória.
As ideologias que têm como princípio o que se constata
na história da humanidade – “a violência, parteira da história” – escolhem
Barrabás, seguem o padrão que sempre existiu, ou seja, violência, ódio entre grupamentos
humanos, para culminar na passagem de um estado civilizatório a outro. Será que
tem que ser sempre assim? Será que a humanidade está fadada ao primitivismo do
ódio e dos sacrifícios, matando-se uns aos outros, para galgar outros
degraus de desenvolvimento? Esta é uma pergunta que julgo pertinente e na qual os filósofos deveriam-se ater por mais tempo [5]
Sem nenhum pieguismo, a verdadeira doutrina cristã
prega algo novo para a evolução da humanidade, o Amor. Não, o amor não é coisa
batida, velha, pois nós nunca o praticamos tal como foi ensinado. Nem a própria
igreja, supostamente responsável por tornar esta mensagem viável, nunca o fez. O que salva – e vale
o trocadilho – é que a Igreja vem martelando a Palavra de Cristo há séculos...
como um robô, convenhamos. Mas, verdade seja dita, a Mensagem vai atravessando
o tempo tal qual foi escrita. Um dia, será que a gente vai compreender e escolher o Cristo em vez de Barrabás?
[1] Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro
mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Marcos 12:30,31
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Marcos 12:30,31
[2] Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra;
e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; Lucas 6:29.
[3] E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade
vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca
do tesouro; Porque todos ali deitaram do que lhes
sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu
sustento. Marcos 12:43-44
[4] Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e
terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. Mateus
19:21
[5] Inspiradora a entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé ao Roda Viva, vale a pena assistir: https://www.youtube.com/watch?v=zA04340FqZA
[5] Inspiradora a entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé ao Roda Viva, vale a pena assistir: https://www.youtube.com/watch?v=zA04340FqZA
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