segunda-feira, agosto 15, 2016

Ecce Homo - Eis o Homem

"Ecce Homo" by Antonio José Vieira, acervo fotográfico
de Chico Lima, cópia autorizada pelo autor.
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Se lançamos um olhar grande angular sobre a cena da escolha entre Jesus e Barrabás, sob Pôncio Pilatos, numa análise para além do âmbito religioso e geográfico, podemos tirar conclusões fascinantes. Percebi isso recentemente, quando tive um insight a propósito da atuação liderada pela ala progressista da Igreja Católica no Brasil, baseada na famosa Teologia da Libertação, o que me levou a considerações mais amplas sobre a humanidade. Em uma crônica que escrevi em 22 de julho passado, deixei claro que a impressão que tenho dessa ala da igreja é que ela, exatamente como aquelas pessoas que estavam diante de Pilatos, optou por Barrabás (pelo que Barrabás representava); não por Jesus. Nem todos, claro, nem todos.  
 (http://maviemontfils.blogspot.ca/2016/07/caos-civilizatorio.html).
Quem era Barrabás? Achei dados muito interessantes em minhas pesquisas; devo ressaltar que as fiz somente pela internet e, apesar disso, encontrei um considerável volume de informações e suposições em torno desse personagem e da circunstância relatada na Bíblia, que parece ser o único documento no qual ele é citado. Em Marcos 15: 7 lê-se: “E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinadores, tinha num motim cometido uma morte.” E isso é tudo o que há de mais detalhado, como documento.
Há hipóteses as mais diversas, mas a que acho mais plausível é a de que Pilatos tenha mesmo “lavado as mãos”. Sendo o Direito Romano muito prezado pelos homens da lei, ciosos que eram da sua evoluída legislação, seria razoável que Pilatos não quisesse cometer uma gafe ao condenar um inocente, para o qual não encontrara crime algum, como diz o Evangelho. Então, mandou flagelá-lo e, ao apresentá-lo desfigurado, em sofrimento, tinha a intenção de provocar o sentimento de compaixão na multidão, pensando que Jesus seria liberado da sentença, dessa maneira. Como o povo continuasse a manifestar o desejo de que ele fosse crucificado, ainda para livrar-se do crime de condenar um inocente, resolveu propor a escolha de um preso para ser solto, seguindo um costume da Páscoa, naquela época. Como Barrabás tinha cometido um homicídio num motim, Pilatos pensou que a multidão escolheria liberar Jesus da condenação. Mas ainda assim não foi o que ocorreu. E Jesus foi crucificado.
O fascinante disso tudo é que, seja lá qual for a verdade sobre Barrabás nessa passagem, aquilo que ficou relatado, seja por que motivo for, foi o antagonismo entre os dois, entre o que eles significam para a humanidade. É de arrepiar, pois o que ficou registrado para a posteridade é o que interessa como mensagem da Palavra, é o que define o caminho inovador para o homem: Ecce Homo.
Jesus é aquele que proclamou o amor a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo[1]. Jesus é aquele que pregou a não violência de modo radical (“oferece a outra face”) e o total desapego ao que é material[2]. Jesus é aquele que mostrou ao rico e também ao pobre[3] a opção de partilhar, de doar tudo o que tem e segui-lo, como único caminho de salvação[4].
Tem que ser uma escolha de cada um. Ele não pregou revoluções para tomar de César o que é de César.
E Barrabás? Barrabás era um rebelde contra o Império Romano opressor. Ele participava de motins, de atos de violência, contrariamente ao que Jesus pregava. Não precisamos analisar esta passagem com olhos “igrejeiros”. Está evidente que a colocação dos dois diante da multidão, para serem objeto de escolha, apesar de não ter tido caráter ideológico à época, ficou como uma lição de Vida, , no mínimo uma aula civilizatória.
As ideologias que têm como princípio o que se constata na história da humanidade – “a violência, parteira da história” – escolhem Barrabás, seguem o padrão que sempre existiu, ou seja, violência, ódio entre grupamentos humanos, para culminar na passagem de um estado civilizatório a outro. Será que tem que ser sempre assim? Será que a humanidade está fadada ao primitivismo do ódio e dos sacrifícios, matando-se uns aos outros, para galgar outros degraus de desenvolvimento? Esta é uma pergunta que julgo pertinente e na qual os filósofos deveriam-se ater por mais tempo [5]
Sem nenhum pieguismo, a verdadeira doutrina cristã prega algo novo para a evolução da humanidade, o Amor. Não, o amor não é coisa batida, velha, pois nós nunca o praticamos tal como foi ensinado. Nem a própria igreja, supostamente responsável por tornar esta mensagem viável, nunca o fez. O que salva – e vale o trocadilho – é que a Igreja vem martelando a Palavra de Cristo há séculos... como um robô, convenhamos. Mas, verdade seja dita, a Mensagem vai atravessando o tempo tal qual foi escrita. Um dia, será que a gente vai compreender e escolher o Cristo em vez de Barrabás?


[1] Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Marcos 12:30,31

[2] Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; Lucas 6:29.

[3] E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento. Marcos 12:43-44

[4] Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. Mateus 19:21

[5] Inspiradora a entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé ao Roda Viva, vale a pena assistirhttps://www.youtube.com/watch?v=zA04340FqZA

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