Publicado também pela KBR Editora Digital, em 23 de novembro de 2015:
e
Os quebequenses têm uma intuição boa
no contexto civilizatório. Deve ser herança francesa. Além disso, têm um
espírito extremamente prático, com capacidade de criar soluções. São inventores
natos, talvez por serem nativos de uma região onde a natureza apresenta tantas
dificuldades à sua sobrevivência.
Já há algum tempo vêm dizendo que,
para acabar com a "radicalização" dos jovens muçulmanos imigrantes,
ou descendentes de imigrantes, que vivem em países do Ocidente, é necessário
que os outros muçulmanos de suas comunidades sejam os primeiros a tomarem a
iniciativa para impedir que isso ocorra. Porque quando outros agrupamentos da
sociedade os denunciam ou os segregam (os outros estão com medo deles mesmo), são tachados de racistas e isso só piora
a situação.
Mesma coisa dizem sobre os bandidos
que surgem nas classes pobres dos países de terceiro mundo. O fenômeno é
parecido pois, estando marginalizados e sem acesso a melhores condições de
vida, alguns acabam se tornando criminosos. Mas não são todos, obviamente. Seus
vizinhos e familiares que são honestos deveriam ser os primeiros (não os
únicos, claro) a tomarem providências para que isso não ocorresse.
É preciso impedir que jovens se
percam nas loucuras dessa violência absurda.
Toda essa energia canalizada para o mal poderia ser canalizada para ações e reivindicações pacíficas e honestas, visando um mundo melhor para todos. Seria interessante haver um movimento para motivá-los a tomarem atitudes dignas que resgatem neles o sentido de viver.
Toda essa energia canalizada para o mal poderia ser canalizada para ações e reivindicações pacíficas e honestas, visando um mundo melhor para todos. Seria interessante haver um movimento para motivá-los a tomarem atitudes dignas que resgatem neles o sentido de viver.
Após os atentados de 13 de novembro
de 2015 em Paris, um professor universitário e psicólogo, Jocelyn Bélanger, se
apressou em publicar um trabalho (em francês[1]
e em inglês[2])
feito na Universidade de Quebec em Montreal (Université de Québec à Montréal),
produto de pesquisas efetuadas sobre o extremismo, durante os últimos 50 anos.
O trabalho é muito interessante, busca as razões pelas quais os jovens que
vivem no Ocidente se “radicalizam”. O professor explica que o processo de
radicalização começa pela perda de sentido de realização pessoal. Por exemplo,
uma perda psicológica, uma humilhação, uma injustiça, uma rejeição social, uma
opressão, podem provocar uma grande dor psicológica, que a pessoa busca
atenuar. Estudos mostram que quando as pessoas são rejeitadas socialmente, as
regiões do cérebro que se ativam são as mesmas associadas à dor física. Quando
o indivíduo é estigmatizado, humilhado recorrentemente, existe uma dor e
aparece a necessidade de atenuá-la. Isso acontece notadamente em grupos que
escolhem a violência. A mudança pode também ser motivada por um ganho
potencial, incentivado pelo discurso de um líder carismático, pelo sentimento
de ser respeitado por um ato heróico ou de aventura.
O trabalho publicado não pára aí. Parece
haver uma luz que se vislumbra no fim do túnel. Propostas concretas para
solucionar o problema são lançadas. É preciso saber identificar os sinais
precursores da radicalização e oferecer ajuda a fim de prevenir a escalada que
leva ao extremismo violento. O autor enfatiza a importância do apoio e da
intervenção da família e da comunidade próxima ao jovem, o papel dos professores
e dos amigos. Um Centro de Prevenção da Radicalização foi criado em Montreal e
tem sido muito útil, não só para identificar casos a risco, como para ajudar as
pessoas a resgatarem o sentido de realização pessoal.
Creio eu que muito se pode fazer nesse
sentido, achei que esse trabalho é muito importante e, em vista dos últimos
acontecimentos, divulgá-lo o máximo possível tornou-se realmente de utilidade
pública.
Precisamos encontrar meios de recuperar
esses jovens que têm tanta energia para oferecer. Penso que motivá-los a agir
contra tendências de radicalização em suas comunidades seria um bom começo, e
que poderia evoluir, em seguida, para funções com o objetivo de melhorias na
integração à sociedade em que vivem.
Vale a pena ler o trabalho (Bélanger,
J. J., Nociti, N., Chamberland, P.-E., Paquette, V., Gagnon, D., Mahmoud, A.,
Carla, L., Lopes M., Eising, C. (2015). Bâtir une Communauté
Résiliente dans un Canada multiculturel : Trousse de Renseignements sur
l’Extrémisme Violent. Building
a Resilient Community within Multicultural Canada: Information Toolkit on
Violent Extremism. Université du Québec à Montréal).
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